segunda-feira, 25 de maio de 2020

A Laura foi à descoberta da Terra do Sol Nascente - parte 7

A Laura decidiu ir à descoberta da cultura ancestral do Japão no passado Setembro. Estamos agora na recta final, os últimos dias em Tóquio (e arredores), com muito para explorar. Em nome próprio, a Laura conta as suas aventuras na Terra do Sol Nascente.


Tóquio, um final mesmo em GRANDE

Chegámos a Tóquio já pelas 17h. Se em Osaka nos sentimos umas formigas, em Tóquio não somos mais do que meros átomos! À primeira vista, Tóquio intimida pelo tamanho dos prédios e das ruas, pelos muitos sinais coloridos e publicidade, e pela quantidade de pessoas que circulam a pé e de carro. Mas depois percebemos que é fácil e agradável caminhar pela cidade e, que, apesar de ser uma das maiores cidades do mundo, o sentimento de segurança é absoluto. 

O nosso guia mostrou-nos os meeting points das visitas guiadas dos próximos dias e teve a simpatia de nos levar ao Tokyo Metropolitan Government Building que tem um observatório (gratuito!) no último piso de onde se vê a cidade – e digo-vos que é impressionante ver tamanha extensão de cidade iluminada. Fomos depois de táxi para o hotel.


Photo by Laura Filipe

Despedimo-nos do nosso guia, fizemos check-in, descansámos 5 minutos e fomos ao bairro electrónico de Shinjuku (uma mini Akihabara) para comprarmos um cartão de memória para a máquina fotográfica (2000 fotos and counting…) e jantar perto da estação. Aproveitámos para tentar novamente a nossa sorte nas máquinas de prémios, mas sem sucesso.

No dia seguinte, 1/10 (3ªfeira), levantámos cedo, tomámos o pequeno-almoço (ocidental, simples, mas satisfatório) e fomos para o ponto de encontro da visita a Tóquio – a estátua LOVE.

A visita é boa para uma primeira abordagem a Tóquio, pois permite ficar com uma noção de onde estão as principais atracções e bairros e ambientarmo-nos à cidade e ao seu movimento. Estou convencida de que é melhor terminar a viagem em Tóquio do que começar por aqui – o choque em termos linguísticos e culturais é menor (e de complexidade dos transportes públicos, que mais parecem labirintos! – só a estação de Shinjuku tem mais de 200 saídas diferentes. I know, right?!) e, literalmente, acaba-se em grande!

Durante a visita parámos para ver o Meiji Shrine que, sendo bonito e de elevada importância, é dos mais simples que vimos ao longo da viagem. Valeu pela oportunidade de ver o final de um casamento tradicional xintoísta, e pela localização do shrine, totalmente rodeado por vegetação.

Photo by Laura Filipe

Outra paragem foi no Jardim Exterior do Palácio Imperial de onde se avista o topo do Palácio e a ponte Niju-bashi. Novamente, é um local bonito, especialmente por ser uma mancha verde no meio de uma cidade de arranha-céus, mas tanto o castelo de Osaka como o de Himeji são muito superiores em beleza. É até um pouco anti-climático. Supostamente, o Jardim Este será mais bonito, mas não tivemos oportunidade de espreitar. Seguimos para o Templo de Senso-ji, realmente bonito!, mas way too crowded. A Rua Nakamise tem muitas opções de lojinhas, mas demasiadas pessoas para se conseguir desfrutar. O que não nos impediu de conseguir comprar mais um souvenir...

O almoço foi num restaurante habitualmente frequentado por lutadores de sumo, em que experimentámos hot pot. Foi uma experiência interessante, apesar de não apreciarmos particularmente a comida.

Depois de almoço, fomos visitar a Skytree Tower, com vistas fabulosas de Tóquio e até do Mt. Fuji, que nos fez um pequeno sorriso lá ao fundo, por entre as nuvens. Fizemos depois uma pequena paragem pela Aqua City (onde está uma pequena réplica da Estátua da Liberdade) em frente à Baía de Tóquio. O dia terminou com um cruzeiro pela Baía de Tóquio ao pôr-do-sol. Espectacular!


Photo by Laura Filipe

De volta à estação de Shinjuku, fomos visitar o Cat Café Calico, um dos mais recomendados em Shinjuku. Não podia sair do Japão sem experimentar, não é? Éramos os únicos ocidentais. Dá ideia que os japoneses frequentam estes cafés para desanuviar e esquecer as preocupações do dia-a-dia. E o que é melhor para isso do que uma série de bolas de pêlo adoráveis? Que são também muito interesseiras, porque os gatinhos estão habituados a ser alimentados. Ainda assim, uma experiência muito gira!

Fomos depois jantar num pequeno Pizza Wine Bar perto do nosso hotel, com um nome muito peculiar e comemos umas pizzas decentes, com um atendimento super atencioso. A menção ao restaurante é um detalhe engraçado, pelo que aconteceu no dia seguinte…

No dia seguinte, 2/10 (4ªfeira), fomos ter ao Keio Plaza Hotel (perto da estação de Shinjuku e da estátua LOVE) para o passeio de dia inteiro a Nikko. A visita vale imenso a pena, só peca pelas horas de autocarro. Cerca de 2h30 para lá e 3h no regresso, com paragens técnicas, claro.

O santuário Nikko Toshogu é impressionante, e, atrevo-me a dizer, o mais bonito que vimos durante toda a viagem! Ao entrar, encontramos um grupo de armazéns ostensivamente construídos. Das muitas esculturas de madeira coloridas e elaboradas que decoram os armazéns, as mais famosas são as dos macacos "see no evil, speak no evil and hear no evil" e os elefantes de Sozonozo ("elefantes imaginados") esculpidos por um artista que nunca tinha visto elefantes. É também o local de descanso final de Tokugawa Ieyasu, o fundador do Shogunato de Tokugawa que governou o Japão por mais de 250 anos, até 1868.

Tivemos um almoço de comida japonesa, bastante bom, e seguimos para ver a Cascata de Kegon. É uma queda de água impressionante e será particularmente bonita no Outono, em que todo o verde da vegetação à sua volta se cobre em tons de laranja e vermelho. Visitámos, por fim, o Lago Chuzenji, na base do Monte Nantai – uma bela paisagem!

Photo by Laura Filipe

O autocarro deixou-nos novamente em Shinjuku e, como estávamos cansados e tínhamos de preparar o que íamos ver por nós no dia seguinte (visto que continuávamos sem dados móveis…), decidimos jantar novamente no mesmo restaurante do dia anterior, ao pé do hotel.

Ficámos ao lado de um casal japonês com ar de CEO’s de uma grande empresa e que, especialmente no fim da refeição, ficaram muito interessados em nós, provavelmente por falarmos algumas palavrinhas de japonês com a menina que nos estava a atender. Perguntaram de onde éramos, se estávamos de férias, e qual era o nosso “business”. Descobrimos (através do seu inglês muito insuficiente e acompanhado do que julgávamos ser o início de uma pequena bebedeira) que o senhor era chairman de uma empresa conhecida; deu-nos o seu cartão e pediu-nos para o contactarmos. Quais as hipóteses de um par de turistas portugueses cansados (e já um pouco maltrapilhos, admita-se), no fim de um dia de visitas, num pequeno restaurante numa ruazinha de Shinjuku, se sentarem ao lado de tal pessoa? Surreal.

No dia seguinte, 3/10 (5ªfeira), andámos o dia todo por nós e batemos o nosso recorde nesta viagem – quase 32 mil passos! Os meus pés estavam a precisar de regressar ao trabalho para descansar das férias… De sublinhar também que, nem hoje, nem no dia seguinte nos perdemos ou enganámos nos transportes públicos! Uma parte dever-se-á a sermos duas pessoas minimamente desenrascadas, mas de resto, é pura sorte, porque Tóquio é um labirinto de metros e comboios! Mais uma razão por que é melhor terminar em Tóquio: já se está mais ambientado à forma de funcionar dos transportes e dos cartões pré-pagos.

Começámos o dia por ver o Museu Team Borderless (são cerca de 30 minutos desde Shinjuku). Convém comprar os bilhetes pelo menos com um dia de antecedência ao dia pretendido para a visita, pelo que comprei no site deles com cartão de crédito no dia anterior. No dia da visita basta apresentar o e-ticket na bilheteira (eles têm free wi-fi e uma aplicação para se interagir com as exposições).


Photo by Laura Filipe

Não sei como descrever o Museu por palavras, mas é totalmente imersivo, inesquecível, e diferente de tudo o que alguma vez vi. Diria que é visita absolutamente obrigatória em Tóquio. Os preços não são meigos, mas valeu muito a pena! É fácil ficar 2 horas no Museu sem nos cansarmos, porque as exposições não têm ordem e não são estanques, sendo até aconselhável visitar a mesma sala mais do que uma vez.

Do Museu caminhámos 3 minutos a pé até ao Venus Fort (centro comercial) para visitarmos uma das lojas oficiais dos Studios Ghibli, já que eu sou apaixonada por all things Ghibli, e, claro, não resistimos a comprar (mais) alguns souvenirs… Para os amantes de Ghibli, existe também um Museu muito, muito giro (que terá de ficar para a minha próxima visita ao Japão…), para o qual é necessário obter bilhetes com bastante antecedência, porque esgotam num ápice assim que são postos à venda.

Do Venus Fort apanhámos transportes para ir até ao Tsukiji Market, o antigo mercado de peixe, que entretanto foi substituído pelo Toyosu (na área de Odaiba) que é onde agora se fazem os famosos leilões de atum. No entanto, a parte de fora do mercado de Tsukiji ainda funciona e as ruas à sua frente estão repletas de restaurantes com peixe fresco – aproveitámos para experimentar sushi novamente.

Antes de irmos para o mercado, na estação de Shiodome vimos o relógio da Nitelle Tower, de estilo steampunk, inspirado num dos filmes de Hayao Miyazaki (Studios Ghibli). De acordo com o Dr. Google, o relógio ganha vida uns 5 minutos antes das 12h, 15h, 18h e 20h, mas como chegámos perto das 13h julgámos que íamos apenas tirar meia dúzia de fotografias e seguir para o mercado. No entanto, assim que nos aproximámos do relógio, este começou a dar música e, pouco depois, os seus mecanismos entraram em acção. Foi um momento muito giro e, decididamente, um grande golpe de sorte.

Depois do mercado, visitámos os Hamarikyu Gardens ali perto, um dos mais bonitos de Tóquio. Nem se sente que se está numa metrópole gigante de tão pacífico que é.


Photo by Laura Filipe

Gastámos o resto da tarde e o início da noite em Akihabara, que é uma perdição para quem goste de electrónica e cultura otaku (isto é, amantes – principalmente – de manga e anime). Já perceberam porque quase chegámos aos 32 mil passos, certo?

Um episódio engraçado a caminho de Akihabara: toda a viagem fomos comentando que não se viam portugueses. Parados num semáforo a caminho de Akihabara, reparei que o casal ocidental que parou ao nosso lado estava a usar o Google Maps e comentei: “estes senhores têm net”, ao que o Luís me responde prontamente em tom invejoso “porcalhões!”, e eu continuo “devíamos perguntar como é que fizeram”, e nisto o senhor do casal responde em português de Portugal “são portugueses?!”. Desatámos os dois a rir, falámos com o casal (que também ia para Akihabara, claro) e prometemos a nós próprios ter mais cuidado da próxima vez - afinal os portugueses estão mesmo em todo o lado.

Depois de termos percorrido todas as lojas possíveis à procura de uma boneca Qposket da Mulan (que acabámos por encontrar numa loja muito apertadinha chamada, imaginem… Mulan), apanhámos o metro de regresso a Shinjuku, jantámos por ali, e fizemos o resto do caminho até ao hotel. Perdidos de cansaço, ainda preparámos o itinerário para o dia seguinte para aproveitarmos o tempo antes de apanharmos o autocarro para o aeroporto.

No dia seguinte, 4/10 (6ªfeira), acordámos cedo mais uma vez, tomámos o pequeno-almoço e fizemos check-out do hotel, pedindo à recepção para nos guardar as malas.

Fomos mais uma vez para a estação de Shinjuku apanhar os transportes para Harajuku e a famosa Takeshita Street. Harajuku é um bairro jovem, mais conhecido pelas lojas de maquilhagem e de roupa alternativa. Quando chegámos, a rua estava praticamente deserta e as lojas ainda fechadas. Caminhámos calmamente pela rua, observando o tipo de lojas existentes (bijuteria, roupa de todos os tipos, maquilhagem, owl café, entre outras). Quando começaram a abrir espreitámos algumas. Como era dia de semana e bastante cedo, o movimento não era muito. Creio que ao fim-de-semana seja bem mais animado.

Da Takeshita Street fomos ver Shibuya Crossing, a mais famosa passadeira do Japão, e onde se encontra a estátua de Hachiko. Lá fiquei na filinha para fotografar a estátua, e depois subimos ao Magnet by Shibuya 109 porque li que dali se tinha uma óptima vista aérea para a passadeira. E é verdade! Paga-se o bilhete base e, quem quiser, pode pagar um extra para usar a câmara que têm no topo do edifício para umas fotografias mais artísticas. Passámos aqui algum tempo a observar a confusão de pessoas e carros lá em baixo – nem imagino como seja em hora de ponta!


Photo by Laura Filipe

De Shibuya, fomos para Roppongi Hills (mais propriamente para a Mori Tower) que, além de restaurantes muito upscale, tem um deque de observação da cidade fabuloso e o Mori Art Museum. Comprámos os bilhetes para ambos e desfrutámos de belas vistas da cidade, incluindo da Torre de Tóquio. Vimos depois a exposição The Soul Trembles de Shiota Chiharu no Mori Art Museum, que foi estranha, mas interessante.

Almoçámos na base da Mori Tower, e tínhamos planeado ainda ir à Torre de Tóquio e ao Shinjuku Gyoen Garden, este último já perto do nosso hotel. Mas, honestamente, estávamos para lá de cansados, pelo que decidimos ir calmamente para o hotel, apanhar as malas, e irmos para o terminal de autocarros em frente à estação de Shinjuku, que é de onde saem os autocarros express para o aeroporto. 


Photo by Laura Filipe

O autocarro chegou a horas e a viagem para o aeroporto foi rápida. O aeroporto é grande, mas fácil de navegar e, quando demos por nós, já estávamos no avião a caminho do Dubai onde tínhamos uma escala grande o suficiente para darmos uma voltinha. Que foi o que fizemos com um guia local, muito conhecedor e muito amável. Honestamente, não fiquei fã do Dubai. Tem prédios impressionantes e o seu ritmo e capacidade de construção são incríveis, mas falta-lhe alma. E é absurdamente quente (as pessoas que gostam de calor e praia que me perdoem), mas não podia deixar passar a oportunidade de visitar.

Chegámos a Portugal ao fim do dia 5 de Outubro, Sábado. Passei o resto do fim-de-semana a sentir que não tinha regressado a casa. Mais parecia que tinha deixado a minha casa lá no Japão e tinha voltado para um país que, sendo familiar, não era o meu. Aquela rotina não era a minha. Eu já não me encaixava aqui. E estava genuinamente triste por ter regressado.

É claro que essa sensação passou. O que ficou foi a certeza de que esta foi a viagem da minha vida e que, apesar de ter ainda muitas maravilhas no mundo para ver e para explorar, nenhum destino jamais se poderá comparar ao país que, juntamente com Portugal, levarei para sempre no coração.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

A Laura foi à descoberta da Terra do Sol Nascente - parte 6

A Laura decidiu ir à descoberta da cultura ancestral do Japão no passado Setembro. Hoje vamos descobrir tudo sobre uma aldeia tradicional da região de Shirakawa-go, a pequena cidade de Takayama, e Hakone, a porta de entrada para o Monte Fuji. Em nome próprio, a Laura conta as suas aventuras na Terra do Sol Nascente. 


Shirakawa-go, Takayama e a chegada a Hakone

No dia 28/09 (Sábado) encontrámo-nos com a guia no hotel, que nos levou até à paragem de autocarro para a viagem para a aldeia de Ogimachi na região de Shirakawa-go. A viagem dura menos de 1h30 e é lindíssima, por entre montanhas verdes e pequenos vales. Além desta aldeia na região de Shirakawa-go existem mais duas aldeias classificadas pela UNESCO. Uma delas é na região de Gokayama e, segundo a guia, tem menos visitantes do que Shirakawa-go.

Ogimachi é lindíssima. Como fomos cedo, não sentimos que tinha assim tanta gente. As casas são lindíssimas e todo o ambiente transmite uma paz imensa. Vimos a casa "principal" por dentro, e está completamente preservada, incluindo roupas e utensílios. A família original ainda aqui mora, numa parte fechada da casa.

Photo by Laura Filipe

Declarada Património da Humanidade pela UNESCO em 1995, é famosa pelas suas casas de campo tradicionais em estilo gassho-zukuri, algumas delas com mais de 250 anos.


Gassho-zukuri significa "construído como mãos em oração", pois os íngremes telhados de palha das casas lembram as mãos de monges budistas juntas em oração. Este estilo arquitectónico desenvolveu-se ao longo de muitas gerações e foi projectado para suportar grandes quantidades de neve pesada que cai na região durante o inverno. Os telhados, feitos sem pregos, proporcionavam um grande espaço no sótão usado para o cultivo de bichos-da-seda.

Ficámos cerca de 2 horas em Ogimachi (e, claro, estoirei o segundo cartão de memória de 32GB!), o que não foi suficiente para podermos apanhar o shuttle (de hora a hora) para subir ao miradouro e ver a panorâmica da aldeia, e tive pena. Enfim, depois apanhámos o autocarro para Takayama, que demorou cerca de 55 minutos. Chegámos pelas 13:00.

Fomos directos ao hotel (mesmo do outro lado da estação) para guardar as malas e depois fomos com a guia almoçar e ver a rua principal e mais tradicional da cidade – mais uma vez, com aquelas casas de madeira que eu adoro. Aproveitámos para ver uma casa tradicional que serviu como centro de governo daquela área (Takayama Jinya). É enorme e vale muito a pena visitar com guia. 

De resto, Takayama vê-se bem de forma independente, porque é muito concentrada e fácil de navegar. Faz-se de uma ponta à outra a pé em cerca de 30 minutos.

Despedimo-nos da guia e fomos passear mais um pouco pelas ruas de Takayama que têm várias lojinhas e restaurantes. Aproveitámos para provar dangos (que são uma espécie de bolinhas de arroz com molho à base de soja) e hida-beef dumplings, já que este tipo de carne de vaca é tradicional desta área (e uma carne bastante cara se pedida em restaurantes – mas com imensa gordura!).

Photo by Laura Filipe

Há que dizer que é preciso jantar cedo. As lojas fecham às 17:00 e pelas 20:30 pouquíssimos restaurantes estão abertos.

No dia seguinte acordámos muito cedo e fomos passear por Takayama. Sendo Domingo e por ser tão cedo, não havia praticamente ninguém na rua. Estava tudo fechado. O dia estava fresco, com algumas nuvens, mas andava-se bem.

Vagueámos pela cidade, a fotografar, e depois fomos ver o Morning Market à beira-rio, que é pequeno e simples, mas muito pitoresco. Em seguida fomos ao Sakurayama Shrine que estava praticamente deserto e com sacerdotes shinto a fazer uma cerimónia. O templo é muito bonito.

Mesmo ao lado pode visitar-se o Museu dos Floats do Festival de Takayama. Estão 5 floats em exposição (que vão sendo alterados rotativamente), mas participam mais de 20 no Festival. O bilhete para o Museu inclui o áudio-guia. Os floats são enormes e ricamente decorados. Vimos imagens do Festival (que iria ocorrer no início de Outubro, snif snif) e são lindíssimas, muito coloridas.

Photo by Laura Filipe

Passeámos mais um pouco pelas ruas tradicionais e regressámos ao mercado, que por esta altura já estava cheio de gente (e as lojas também já começavam a abrir). Aparentemente, as famílias (e casais) compram saquinhos de comida para dar aos patos e às carpas que estão no rio e estes concentram-se já automaticamente no local onde é habitual serem alimentados. Fazem as delícias da pequenada e dos graúdos.

Regressámos ao hotel para ir buscar a bagagem que tínhamos deixado à guarda da recepção (depois de termos comprado algo para comer no comboio, pois teríamos 3h40 de viagem total pela frente) e fomos apanhar o comboio para Odawara.

Não há palavras que descrevam sequer aproximadamente a beleza do trajecto de comboio até Nagoya. A linha segue o curso do(s) rio(s) por entre montanhas verdes e pequenos vales com aglomerados de casinhas. É uma das viagens de comboio mais bonitas que já fiz.

As 2h30 até Nagoya passam a correr num comboio muito confortável, como aliás, todos os que temos utilizado. Realmente o sistema de transportes públicos japonês é de louvar!

Chegados a Nagoya, trocámos para o shinkansen que nos levaria até Odawara (cerca de 1h10 de caminho). Trocar de comboio em Nagoya é muito simples, tudo muito bem indicado.

Chegados a Odawara, o guia estava à nossa espera na plataforma e ajudou-nos a apanhar o comboio até à estação mais perto do nosso hotel. O nosso hotel estava mesmo em frente à estação e o serviço é óptimo. É um pouco grande para o meu gosto, porque prefiro hotéis mais pequenos, mas é um bom hotel. Fico com alguma pena de não ter ficado num ryokan, mas vamos apontar para uma próxima viagem ao Japão.

Por sugestão do nosso guia (que é uma "personagem" giríssima, um misto de japonês e latino – tendo convivido muitos anos com culturas latinas em contexto profissional – e que lembra profundamente o Mr. Miyagi do filme do Karate Kid) reservámos um onsen privado no hotel para termos a experiência do onsen, sem termos de estar nuzinhos com desconhecidos.

É uma experiência muito agradável e não foi muito cara. Saímos de lá relaxados e com pele de bebé. Acredito plenamente que é um dos segredos das japonesas para manterem estas peles tão lisinhas (isso e praticamente não apanharem sol).

Depois fomos jantar (que já estava incluído na tarifa do hotel) – um jantar tradicional japonês bastante bom.

Adormeci muito descansada e a pedir à Nª Senhora de Fátima (que é muito viajada, o meu avô costuma pedir que nos acompanhe nas nossas viagens) que me deixasse ver nem que fosse só o cume do Mt. Fuji no dia seguinte…


Vimos ou não o Monte Fuji, eis a questão

Hoje, 30/09 (2ªfeira), acordámos cedo e fomos tomar o pequeno-almoço à hora que abriu. Nós e o resto do hotel. Acho que nunca vi tanta gente junta numa sala de pequeno-almoço. Mais um motivo para não gostar de hotéis grandes. Enfim, lá conseguimos chegar à comida (que era boa!), fizemos check-out e fomos apanhar o autocarro até ao Lago Ashi, de onde parte o ferry que nos leva ao Hakone Ropeway

A viagem de autocarro é feita pela primeira estrada construída para ligar Tóquio a Quioto, na altura em que Tóquio ainda se chamava Edo. É a subir e bonita, pelo meio da vegetação, mas as curvas não dão tréguas! Fazer esta viagem logo a seguir ao pequeno-almoço é um teste de resistência…

Bom, chegámos ao Lago Ashi e a vista era de tirar o fôlego!

Apanhámos o ferry para o local de onde parte o teleférico e, imaginem, pelo caminho, o Mt. Fuji, habitualmente tão tímido, decide sorrir-nos e dizer-nos “olá”.

Photo by Laura Filipe

É uma vista magnífica. E ficou ainda melhor. Subindo o teleférico (cerca de 10 minutos, o mesmo tempo que demora o ferry), chegámos ao topo da montanha para ver um Mt. Fuji vaidoso a querer mostrar-se aos poucos visitantes que por ali andavam àquela hora. 

Ainda nem acredito bem nas fotografias magníficas que tirei - a Nª Senhora de Fátima esmerou-se! E, claro, lá se foi o outro cartão de memória de 16GB… sobra-me um outro de 16GB e terei de comprar um suplente em Tóquio.

Ficámos um pouco no topo da montanha a admirar as vistas do Lago e do Mt. Fuji (que, entretanto, voltou à sua timidez e cobriu-se quase totalmente de nuvens) e, depois, descemos no teleférico e apanhámos o autocarro que nos levaria ao funicular e ao Gora Kadan.

Photo by Laura Filipe

Em condições normais teríamos visitado Owakudani (o local dos famosos ovos negros, kuro tamago em japonês), mas o Governo tinha proibido as visitas (e desactivou o teleférico dessa área) desde Maio de 2019 devido ao risco de explosões, pois esta é uma área de imensa actividade vulcânica que está neste momento muito activa. Inclusive, o guia informou-nos que há o risco de o Mt. Fuji acordar em breve, pois costuma ser algo cíclico, e o Governo já está a tomar precauções (tendo em conta que o vulcão está a menos de 100km de Tóquio…).

Seguimos então para o Gora Kadan para almoçar. O serviço é irrepreensível e a comida muito boa e com óptima apresentação. 

Apanhámos o comboio de regresso à estação inicial (onde tínhamos deixado as malas num cacifo, que é um serviço que existe em todas as estações e que funciona lindamente!) e fomos apanhar o comboio Romancecar até Tóquio (cerca de 1h30). Conseguimos ficar na 2ª fila da última carruagem, que tem uma janela panorâmica, o que significa que tivemos uma vista magnífica do trajecto. Não tão boa como a da 1ª fila, claro, mas não se pode ter tudo. É aconselhável trazer um casaco para a viagem, porque o lugar do lado da janela sofre bastante com o ar condicionado. 

É curioso pensar que em menos de 2 horas passaremos de um local de extrema beleza natural (ah, Mt. Fuji…) para uma das maiores cidades do mundo, repleta de arranha-céus e 37 milhões de pessoas. Como não adorar estes contrastes dentro de um país?

segunda-feira, 11 de maio de 2020

A Laura foi à descoberta da Terra do Sol Nascente - parte 5

A Laura decidiu ir à descoberta da cultura ancestral do Japão no passado Setembro. Hoje descobriremos tudo sobre Kanazawa, uma cidade samurai. Em nome próprio, a Laura conta as suas aventuras na Terra do Sol Nascente.


Kanazawa, cidade samurai (e gastronómica)

Dia 26/09 (5ªfeira) deixámos as malas na recepção do hotel pelas 7h (para que seguissem para o hotel de Tóquio), tomámos o pequeno-almoço e fomos apanhar o comboio na estação de Quioto em direcção a Kanazawa, que fica a cerca de 2h30 de caminho.

Fomos num Thunderbird, que eu apelidei de parente pobre do shinkansen mais moderno: não tem ar condicionado (ou estava avariado), não tem wi-fi e não tem comida a bordo, apenas bebidas. Ainda assim, é muito confortável e as paisagens pelo caminho são lindíssimas - mar, montanhas, campo, casas tradicionais... este país é saído de um conto de fadas!

Chegados a Kanazawa fomos para o hotel para fazer check-in, que não estava disponível porque era só a partir das 14h. Deixámos as malas num cacifo do hotel (muito prático) e fomos visitar o Omicho Market que, além de produtos locais, tem imensos snacks e alguns restaurantes - um óptimo local para foodies. Pode optar-se por ir petiscando pelas banquinhas ou sentar para comer num restaurante.

Photo by Laura Filipe

Optámos por experimentar um restaurante de sushi, já que Kanazawa tem óptimo peixe e marisco. Depois de almoço, explorámos mais um pouco o mercado e, em seguida, fomos visitar o Kenrokuen Garden, perto do Castelo de Kanazawa. Não sendo espectacular, é muito agradável e proporciona um momento mais relaxado numa viagem que se tem revelado algo cansativa (mas recompensadora!).

Photo by Laura Filipe

Depois regressámos ao hotel para fazer check-in (mais um quarto em que temos de pedir licença para entrar, mas um pouco mais espaçoso que o anterior) e saímos umas horas depois para jantar.

Hoje, 27/09 (6ªfeira), tomámos o pequeno-almoço e encontrámo-nos às 9h com a guia para a visita guiada a Kanazawa.

Kanazawa tem mesmo de ser vista com a ajuda de um guia, caso contrário não se sabe o que se está a ver, mesmo que se chegue aos sítios. A guia é muito simpática e muito conhecedora da cidade.

Começámos por ver um dos bairros geisha da cidade (são 3 ao todo, sendo que este é um dos menos movimentados em termos de turistas). Não me canso de admirar as ruazinhas estreitas e sinuosas com as casas tradicionais com estrutura de madeira.

A guia levou-nos a uma casa tradicional geisha aberta ao público, que tinha o senhor japonês mais simpático que possam imaginar a explicar-nos as coisas (com a ajuda da guia para algumas traduções). Embora não fosse permitido entrar na sala em exposição, pediu-nos para entrar e tirou-nos fotografias sentados de joelhos à mesa e com os instrumentos que as geishas usam para entreter os seus convidados.

As casas são minimalistas por dentro e muito, muito bonitas com as suas portas de correr e os tatamis no chão.

Photo by Laura Filipe

Despedimo-nos do senhor e seguimos para o Templo Ninja – que é apenas um nickname devido às passagens secretas e outros truques escondidos pelo templo, de resto não tem nada a ver com ninjas (esta era uma cidade controlado pelo senhor feudal, e defendida por samurais). A visita ao templo é feita inteiramente em japonês – não permitem aos guias que traduzam – mas com o apoio de um livrinho com fotografias e explicações em inglês do que estamos a ver. Valeu muito a pena!

No final da visita, que começou às 10h e durou cerca de 30 minutos, seguimos para o Castelo de Kanazawa, que é o único no Japão com telhado branco (resultante do chumbo oxidado). O Castelo foi alvo de fogo posto (segundo consta) e quase completamente destruído. No entanto, foi reconstruído de acordo com a traça e materiais originais. Vale a pena a visita ao Castelo e ao Jardim (não o Kenrokuen, um outro mais pequeno).

Seguimos depois para o Bairro Samurai (Nagamachi). Mais ruas estreitas e sinuosas e casas tradicionais em madeira. Ficámos a saber que Kanazawa era uma das maiores cidades durante o início do período Edo, pois produzia muito arroz, que era como se media a riqueza na altura. No Bairro Samurai também se percebe que quanto mais alto o muro que rodeia a casa, mais rica a família samurai que ali vivia. Visitámos a casa de uma família samurai (Nomura) e logo à entrada somos recebidos por uma armadura samurai, totalmente preservada que, segundo a guia, pesa cerca de 25kg. A casa é lindíssima e tem um pequeno jardim muito pacífico.

Photo by Laura Filipe

Fomos depois almoçar e aproveitámos para experimentar tempura de gambas e legumes, que estava deliciosa.

Seguimos para um templo (já perco a conta ao número de templos e shrines que vemos, até mesmo entre prédios altos ou em casas particulares), cujas traseiras dão para um outro pequeno bairro geisha, também pouco movimentado. Como o bairro está nas traseiras do templo, os homens podiam fingir que iam rezar e escapar-se pelas traseiras para visitarem as geishas

Perto do bairro geisha mais popular de Kanazawa, existe uma pequena workshop que produz folha de ouro, que é um dos símbolos da cidade – bebe-se folha de ouro no chá, comem-se gelados com folha de ouro… Foi muito interessante ver o processo manual de produção de folha de ouro e o seu manuseamento.

Seguimos então para o terceiro bairro geisha, o mais popular e movimentado dos três. Vimos uma geisha house por dentro, maior e mais elaborada do que a que tínhamos visto de manhã, com as suas paredes interiores em tons de vermelho e as suas portas de correr com padrões lindíssimos.

Segundo a guia, apesar de hoje em dia se preservarem as casas tradicionais (que até há pouco tempo eram consideradas velhas e feias), os jovens preferem casas mais modernas, estilo apartamentos. Não é que não compreenda e, se fosse japonesa, talvez partilhasse do sentimento, mas estas casas tradicionais fascinam-me to no end. Parecem casas de bonecas.

Apesar de se verem grupos de amigas e casais com os kimonos tradicionais um pouco por toda a parte em Quioto, em Kanazawa (talvez por não ter a dimensão de Quioto e, por isso, um ambiente um pouco mais intimista) há alturas em que parece que somos transportados para uns séculos atrás quando nos deparamos com pessoas com os kimonos tradicionais em ruazinhas estreitas sem ocidentais ou grandes elementos modernos à vista.

Photo by Laura Filipe

Kanazawa merece bem o tempo que lhe dispensámos e é uma óptima opção para quem tenha tempo e queira ver um lado mais tradicional do Japão sem multidões.

Amanhã acordamos cedo para apanhar o autocarro para a aldeia de Ogimachi na região montanhosa de Shirakawa-go. Mal posso esperar! Apesar de saber que esta é uma aldeia turística, tenho a certeza que ficava uma semana inteira (ou mais!) a descobrir aldeiazinhas japonesas totalmente banais e desconhecidas para poder observar a vivência dos locais que, certamente, será muito diferente das médias e grandes cidades.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

A Laura foi à descoberta da Terra do Sol Nascente - parte 4

A Laura decidiu ir à descoberta da cultura ancestral do Japão no passado Setembro. Hoje descobrimos o que afinal aconteceu ao tori de Miyajima e relembramos Hiroshima, um exemplo de resiliência e de esperança. Em nome próprio, a Laura conta as suas aventuras na Terra do Sol Nascente. Miyajima e o tori "desaparecido", e Hiroshima cheia de esperança Hoje, 25/09 (4ªfeira), acordámos cedo e fomos para o ponto de encontro para a visita guiada em grupo a Miyajima e Hiroshima, perto da estação de Quioto. Não pudemos tomar o pequeno-almoço no hotel, porque a visita começava às 7h50 e, aparentemente, os pequenos-almoços só começam às 7h (em Osaka também era assim), mas prevenimo-nos na noite anterior e fomos a um supermercado. A partir do ponto de encontro fomos para a estação de Quioto para apanharmos o shinkansen para Hiroshima. É cerca de 1h30 de viagem, pelo que chegámos pelas 10h. O grupo foi recebido pela guia na plataforma da estação de Hiroshima e foi encaminhado para o autocarro em que iríamos fazer a visita. Fomos directos apanhar o ferry para Miyajima (25-30 minutos desde a estação) que demora menos de 10 minutos. Como saberão, Miyajiima é famosa pelo seu tori e shrine dentro de água que proporciona uma imagem fabulosa (e fotografias também!). Só que, adivinhem só... não só estava maré baixa, como o tori estava em processo de restauro! Ainda assim, valeu muito a pena a visita e só tivemos pena de não ter mais tempo para explorar (apesar de a ilha ser pequena).

Photo by Laura Filipe

Vimos o shrine por dentro, o tori (ainda que totalmente coberto) e babámo-nos mais um pouco com os veados selvagens que vivem em Miyajima. Pois, eu também pensava que só existiam em Nara. Mas aqui não é permitido alimentá-los e há que ter alguma atenção, porque os veados daqui são conhecidos por tentar roubar sacos de plástico em busca de comida - ainda assim, são dóceis e deixam fazer festinhas. No final da visita ao shrine, aproveitámos o tempo livre para passear mais um pouco e almoçar. Experimentámos okonomiyaki, uma massa com vários toppings, tudo salteado - muito saboroso - e aqui a especialidade é okonomiyaki de marisco, especialmente de ostras (que na ilha são comidas cozinhadas em vez de cruas). Mas como nenhum dos dois é amante de ostras, optámos pelo standard. Fizemos depois a viagem de ferry e autocarro de regresso a Hiroshima para visitar o Parque e o Museu em homenagem às vítimas da bomba atómica. Começámos pelo Parque, em que vimos o A-Bomb Dome, um dos edifícios que, apesar de estar praticamente no hipocentro da explosão, sobreviveu e foi preservado pela cidade. Não sei explicar a sensação de olhar para as entranhas de um edifício outrora perfeitamente funcional. Foi impressionante também ver um tori de pedra que sobreviveu à explosão.

Photo by Laura Filipe

Ficámos a saber que a explosão ocorreu pertíssimo de uma escola primária e que muitas crianças morreram. Por esse motivo, e, em especial, por causa de uma menina chamada Sadako (que estando extremamente doente, todos os dias fazia passarinhos de origami para que o seu desejo de recuperação se concretizasse, embora sem sucesso...) foi inaugurado o monumento de homenagem a todas as crianças que sofreram com a bomba atómica. Ainda hoje, crianças e adultos colocam corrente de passarinhos de papel no monumento, e um pouco por todo o Parque que são, gradualmente, recolhidos e reciclados pela cidade e transformados em postais. Ao chegarmos, um grupo de crianças em visitas de estudo (com os seus adoráveis uniformes) cantavam em frente ao monumento. Embora apenas percebesse palavras soltas, a mensagem era de esperança por um futuro com mais amor e, sobretudo, paz. Ainda agora, ao relembrar este momento, me sinto emocionada pela pureza das vozes daquelas crianças que cantam pelas que perderam as suas.

Photo by Laura Filipe

Continuámos a caminhar pelo Parque que tem um sino que é tocado pelos visitantes a desejar a paz mundial. Existe também uma vala comum para as pessoas que estavam demasiado desfiguradas para serem reconhecidas e que foram ali colocadas a repousar sob o olhar de Buda, para que as suas almas fossem salvas e pudessem encontrar paz. Existe ainda uma parte muito bonita do Parque (já em frente ao Museu) com uma chama que arde eternamente enquanto existirem bombas nucleares no mundo. A visita a Hiroshima não é fácil, mas o "pior" ainda estava para vir. Seguimos para o Museu da Paz. Não sei o que esperava, honestamente, mas não estava preparada para o que encontrei. Nunca percorri um museu em que o silêncio fosse tão absoluto e, ao mesmo tempo, tão ensurdecedor. Em que os semblantes passavam de incrédulos a tristes com cada passo. O Museu explora os acontecimentos do dia do bombardeamento e as consequências dos dias seguintes devido à radiação, com histórias dos sobreviventes e dos que não sobreviveram. As fotografias são explícitas, nuas, cruas e não poupam ninguém. Não há panos quentes, apenas factos. É um murro no estômago e um aperto no peito que dura cerca de 1h30. Não será uma visita para toda a gente, mas é um confronto importante, pois somos obrigados a sentir o desespero daquelas pessoas. E é importante para que não existam mais "Hiroshimas". No entanto, o Museu termina com uma nota de esperança, relatando casos de sobreviventes que refizeram as suas vidas. A própria cidade é um símbolo de esperança, resiliência e recuperação, já que começaram a desenvolver a cidade quase de imediato após o bombardeamento (ironicamente, as suas fábricas não foram atingidas).

Photo by Laura Filipe

Ao sairmos do Museu fomos agraciados com um belíssimo pôr-do-sol. Regressámos de autocarro até à estação de Hiroshima e de shinkansen até Quioto. Fomos jantar algo simples e rápido e preparar a mala para as próximas 4 noites sem a bagagem principal (que seguirá amanhã, 26/09, directa para o hotel de Tóquio).