segunda-feira, 27 de abril de 2020

A Laura foi à descoberta da Terra do Sol Nascente - parte 3

A Laura decidiu ir à descoberta da cultura ancestral do Japão no passado Setembro. Já começámos antes a contar a história desta viagem. Hoje vamos descobrir o paraíso dos veados sagrados, aprender a arte ancestral das cerimónias de chá e visitar Himeji. Em nome próprio, a Laura conta as suas aventuras na Terra do Sol Nascente.


Descobrir Nara, o paraíso dos veados sagrados

Chegados a Nara, subimos a rua à saída da estação até uma passagem subterrânea que vai dar à zona noroeste desta rua que, mais à frente, se liga à rua do Nandai-mon Gate, além do qual está o Templo Todai-ji.

Pelo caminho começaram a aparecer os famosos veados sagrados, e são amorosos!


Photo by Laura Filipe

Podem comprar-se bolachas por 150 JPY para lhe dar e eles ficam doidos e andam atrás das pessoas e a puxar a roupa ou a dar pequenas marradinhas, mas sem qualquer agressividade. Estão completamente habituados às pessoas e não têm medo nenhum. São muito espertos - se mostramos as mãos vazias, param de nos seguir e vão procurar outras vítimas.

O Templo Todai-ji é um espanto por fora e tem um Buda impressionante no seu interior. Passámos o resto do dia a explorar o Nigatsu-do Hall, o Kasuga-Taisha Shrine e o Templo Kofuku-ji. E, claro, a ser chantageados por veados até cedermos e darmos mais bolachinhas - e um bocado do nosso itinerário da viagem!


Photo by Laura Filipe

Nara vê-se bem num dia. Chegámos por volta das 10h e regressámos pelas 17h20. Mas anda-se que se farta!

O Nigatsu-do Hall está numa localização giríssima no topo da colina. O Kasuga-Taisha Shrine é um complexo ainda grande, muito bonito e com uma sala escura cheia de lanternas iluminadas que faz um efeito mágico.

Ao chegar a Nara é aconselhável verificar logo os horários dos comboios de regresso, para não acontecer como a nós que ficámos quase 1 hora à espera do seguinte.

Regressados a Quioto, fomos gastar dinheiro ao Pokémon Center (eu sei...) e depois decidimos que queríamos ir ver Gion à noite, o que se revelou uma aventura.

Primeiro não encontrávamos o local dos city bus que vão para Gion a partir da estação de Quioto - e acreditem quando vos digo que se anda quilómetros dentro desta estação! Então, decidimos apanhar o metro para Karasuma, de onde sabíamos que saíam os autocarros. Surpresa das surpresas: os city bus eram desse lado da estação!

Bom, chegados a Karasuma, apanhámos alegremente o autocarro, só que... no sentido contrário. I know, right!?

Voltámos para trás, apanhámos o comboio para Kawaramachi na Hankyu Railway e, pronto, lá fomos ver a rua principal de Gion que estava iluminada, mas muito sossegada. E não vimos geishas.

Dizem que as pessoas quando estão de férias fora do seu país perdem uns pontos de QI, não é? Comprova-se a 100%.

Trinta mil passos depois (e não estou a exagerar, a média até agora são uns 25 mil por dia), chegámos finalmente ao hotel para descansar. O nosso cartão SIM continua sem funcionar, mas já nos resignámos e vamos continuar a viagem the old fashioned way, que até tem mais encanto.

Amanhã vamos ter a cerimónia de chá de manhã (hopefully não nos vamos enganar no sentido do autocarro) e depois seguimos para Himeji de shinkansen.


A cerimónia de chá e o Castelo de Himeji

Ontem, 24/09 (3ªfeira), foi dos dias em que acordámos mais tarde. Os nossos dias têm começado sempre muito cedo.

Tomámos o pequeno-almoço e fomos de transportes até Gion, onde teríamos a experiência da cerimónia de chá. Não, não nos enganámos no sentido do autocarro.

A cerimónia foi numa casinha muito pequenina, num pequeno beco perto do Templo Chionin - que fomos espreitar porque chegámos 30 minutos antes da hora marcada para a cerimónia, e que é muito giro, especialmente porque não tinha hordes de turistas. Consegue apreciar-se o espaço e a aura espiritual do sítio e imaginar como seria há séculos atrás.


Photo by Laura Filipe

Fomos recebidos por uma senhora dos seus 60 anos, vestida com um kimono, que nos pediu para nos descalçarmos e para nos sentarmos no chão de frente para os utensílios utilizados para a cerimónia. Começou por explicar o significado por trás da cerimónia de chá e o que os convidados deviam levar consigo. Depois explicou cada um dos utensílios utilizados.

Seguiu-se a demonstração.

Em completo silêncio, a nossa anfitriã executou a sequência intrincada e precisa de movimentos que compõem a cerimónia. É quase hipnotizante. A senhora era de uma enorme graciosidade na fala e nos gestos. Serviu-nos o chá, que é à base de matcha (o único utilizado para estas cerimónias, e só em ocasiões especiais) e depois explicou todo o processo que tinha feito. Em seguida, convidou-nos a preparar o nosso próprio chá (que, modéstia à parte, ficou muito saboroso), e mostrou-nos o "ritual" que os convidados devem seguir para beber o chá.

Uma experiência de cerca de 1 hora que vale muito a pena. E vale a pena que seja feito em privado, porque é muito intimista.

Terminada a cerimónia fomos para a estação de Quioto, almoçámos, e pelas 13h30 apanhámos o shinkansen em direcção a Himeji. A viagem é menos de 1 hora e o comboio mais parece um avião. Só não fiquei totalmente rendida, porque os meus ouvidos sofreram mais do que numa viagem de avião. Mas há que admitir que é um meio de transporte muito conveniente.

Visitar Himeji por nós próprios é extremamente fácil. Saindo da estação, é seguir sempre em frente pela rua principal - cerca de 1km - e chegamos ao Castelo.


Photo by Laura Filipe

Apesar de ter uma parte em processo de restauro - o Governo Japonês tem por hábito restaurar regularmente os seus monumentos, e não apenas quando estão com problemas - e, por isso, coberta por andaimes e rede, o Castelo é realmente impressionante e merece bem que se "perca" uma tarde para visitar. O interior também está muitíssimo bem preservado e leva-nos numa pequena viagem no tempo.

Optámos por comprar os bilhetes para o Castelo e o Jardim Kokoen. O Jardim vale muito a pena porque é lindíssimo, com pequenos lagos e koi (carpas). Vimos o jardim já um pouco a correr para não nos atrasarmos para o comboio de regresso às 18:03, mas vale a pena ver com um pouco mais de calma. Diga-se que o Jardim acabou com o que restava do meu cartão de memória de 32GB. Quase 800 fotografias em 4 dias. Será um exagero?


Photo by Laura Filipe

No caminho de regresso à estação aproveitámos para provar uma iguaria típica, uma espécie de croquete gigante em espetada com o interior recheado de queijo - uma delícia!

Regressados a Quioto fomos experimentar os pratos de caril que os Japoneses também gostam, e recomendo vivamente. Não sou uma grande apreciadora de caril, mas gostei deste.

Depois fomos direitinhos para o hotel, porque foram mais 25 mil passos, e tínhamos de acordar cedo no dia seguinte para a visita a Miyajima e Hiroshima.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

A Laura foi à descoberta da Terra do Sol Nascente - parte 2

A Laura decidiu ir à descoberta da cultura ancestral do Japão no passado Setembro. Já começámos antes a contar a história desta viagem. Hoje seguimos para Quioto, a antiga capital do Japão. Em nome próprio, a Laura conta as suas aventuras na Terra do Sol Nascente.


A aventura continua em Quioto

Ontem (22/09, 2ªfeira), partimos bem cedo para Quioto. Encontrámo-nos com a guia às 7h30 no hotel e fomos para a estação de Osaka para apanhar o comboio.

A guia deu-nos os cartão ICOCA (cartões de transporte, iguais aos SUICA que se obtêm em Tóquio) e mostrou-nos como carregar o cartão e verificar o saldo. É muito fácil de usar e dá para praticamente tudo (comboio, metro, autocarro...). Só não dá para a Japan Rail e o shinkansen (comboio-bala).

A viagem de comboio foi curta e muito agradável. Não há dúvida que o Japão tem uma óptima rede de transportes públicos.

À chegada a Quioto, a guia levou-nos ao serviço de entrega de malas e as malas de porão seguiram directamente para o nosso hotel para que pudéssemos fazer a visita guiada livremente. Mais um óptimo serviço!

Começámos a visita por Fushimi-Inari, o shrine dos toris vermelhos - é lindíssimo! - e as ruas à sua volta que são ruas típicas japonesas com as fachadas das casas em madeira.


Photo by Laura Filipe

Seguimos para o Templo Kyiomizu-dera (Pure Water Temple) que, apesar de estar com a fachada em obras, é espectacular e tem uma vista magnífica sobre a cidade. Quioto, apesar de grande, não tem arranha-céus porque, por lei, não é permitido construir edifícios muito altos para preservar a skyline da cidade. O edifício mais alto é a Torre de Quioto.

Explorámos depois as ruas do bairro de Higashiyama que são muito típicas e estão cheiinhas de meninas e meninos vestidos com kimonos - e até tivemos a sorte de ver um casal a ser fotografado em trajes tradicionais de casamento. O Japão é também conhecido pelo chá matcha e neste bairro podem provar-se amostras de diferentes doces de matcha e outros doces tradicionais.


Photo by Laura Filipe

Daqui fomos ver a rua principal de Gion, com as suas lanternas vermelhas e as casas das maikos e geishas.

Por ser Domingo e o equinócio, muitas pessoas dirigiram-se aos shrines, templos e cemitérios para rezar e honrar os seus antepassados.

Após o almoço, seguimos caminho para Kinkaku-ji, também conhecido como Golden Pavilion, que era parte da residência de um shogun que, nitidamente, gostava de se exibir. O Golden Pavilion, como o nome indica, é todo dourado é está no meio de um lago, criando uma imagem lindíssima com o seu reflexo na água. É um local muito turístico, mas vale muito a pena. Não se visita por dentro, a não ser com uma autorização muito especial.


Photo by Laura Filipe

A paragem seguinte foi Arashiyama, local da floresta de bambu e do Templo Tenryu-ji. Azar dos azares: começou a chover a cântaros quando chegámos à floresta de bambu e só vimos o início do percurso, que parece ser espectacular. Em vez disso, fomos ver o jardim e o Templo, que está à beira de um pequeno lago e que, mesmo (e especialmente!) com chuva, tem um ambiente muito tranquilo. Daí, com o abrandar da chuva, fomos ver a ponte Togetsku-kyo que, enquadrada na paisagem verde de Arashiyama, é o local preferido de muitos japoneses para encontros românticos.


Photo by Laura Filipe

Regressámos ao hotel para fazer check-in e refrescarmo-nos um pouco antes do jantar com Maiko.
Note to self: nunca marcar quartos semi-duplos no Japão - temos de pedir licença para pôr um pé à frente do outro.

Pelas 18h10, fomos com a guia até ao local do jantar com Maiko, altura em que nos despedimos dela.

Não acho que estas experiências com Maiko valham muito a pena, só para alguém que tenha uma imensa curiosidade em ver uma Maiko de perto. É extremamente turístico. Não me senti de todo à vontade. E a comida também não era nada de especial, acabámos por ir comer qualquer coisa a outro lado quando saímos.

Regressámos ao hotel e fomos rever a melhor maneira de chegar a Nara no dia seguinte, porque apesar das explicações da guia, ficámos um pouco confusos entre o metro e o comboio. Lá percebemos que a melhor maneira de chegar a Nara é através da Kintetsu Line que parte da estação de Quioto. A JR Line também funciona, mas não fica tão central em Nara. Deve apanhar-se o comboio express que dura cerca de 45-55 minutos e é directo.

Foi o que fizemos no dia seguinte, 2ªfeira, 23 de Setembro.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

A Laura foi à descoberta da Terra do Sol Nascente - parte 1

Após uma viagem pela natureza da Costa Rica em 2018, a Laura decidiu ir à descoberta da cultura ancestral do Japão no passado Setembro. Sempre disse que seria a viagem da sua vida - será que superou expectativas? Vamos começar: em nome próprio, a Laura conta as suas aventuras na Terra do Sol Nascente.


A tão aguardada partida (e chegada)

Konichiwa, mina-san! Que é como quem diz "olá a todos!".

Ainda nem acredito bem que estou no Japão. Era uma viagem com que sonhava há anos e que nunca pensei fazer tão cedo. É um sonho tornado realidade.

Os voos correram muito bem. O aeroporto de Osaka é feio, mas é funcional e os trâmites legais não são muito demorados. Encontrámos a nossa guia à saída, comprámos um cartão SIM com dados e fomos apanhar o autocarro que nos deixou a menos de 10 minutos a pé do hotel. Chovia um pouco quando chegámos, mas sem ser incomodativo. O hotel é simpático, muito limpinho e bem localizado, a cerca de 10 minutos a pé da estação de Osaka (que seria o ponto de encontro da visita guiada do dia seguinte).

Chegámos ao hotel pelas 20h30, pelo que só tomámos um duche, trocámos de roupa e fomos em busca de um sítio para jantar.


Photo by Laura Filipe

Embora Osaka seja cheia de ruas e avenidas largas, e prédios altos que nos fazem sentir umas míseras formiguinhas, o encanto está nas ruas mais estreitas e cheias de restaurantes e sinais e placas luminosas, tal e qual como se vê nos filmes. Foi numa destas ruazinhas que encontrámos um pequeníssimo restaurante de ramen, onde só estavam japoneses (acabados de sair do trabalho), a jantar e a conviver. O empregado não falava uma ponta de inglês, mas entre o nosso japonês e gestos lá nos indicou qual a melhor opção - ramen de amêijoas. E tenho a dizer-vos que foi uma delícia (não só a comida, como este primeiro vislumbre da vida dos locais).


Primeira visita em Osaka

No dia seguinte (21/09, Sábado), encontrámo-nos com a guia na estação de Osaka. A cidade é mais bonita à noite toda iluminada, mas para os apreciadores de arquitectura vale a pena visitá-la de dia.


Photo by Laura Filipe

Começámos por visitar o Umeda Sky Building, que além de um exemplo de arquitectura moderna, permite uma observação de 360º de Osaka - a cidade é arranha-céus a perder de vista. Depois tivemos um early lunch, após o que fomos visitar o Castelo de Osaka, utilizando o metro.

O Castelo é lindíssimo por fora, e por dentro tem exposições sobre a História do Castelo e de Osaka.

Photo by Laura Filipe

Terminámos a visita com um cruzeiro e cerca de 1 hora pelo rio. Creio que teria sido mais interessante ter tido mais tempo no Castelo, e o cruzeiro é, honestamente, dispensável. Osaka é bonita no seu todo, não pelas partes que a compõem, pelo que o cruzeiro não acrescentou nada.

Regressados ao hotel, após breve visita ao Pokémon Center (no Japão, sê criança), tentámos activar o cartão SIM, mas sem sucesso.
Mesmo sem acesso a dados, decidimos ir visitar o bairro de Dotonbori the old fashioned way, com mapa na mão e a confirmar o caminho com as alminhas caridosas que acederam a parar. Rapidamente nos disseram que estávamos longíssimo a pé, e aconselharam-nos a apanhar o metro. E foi a melhor decisão! O metro funciona às mil maravilhas e é muito fácil de entender, mas anda-se imenso (!) dentro da estação para trocar de linha.

Dotonbori é o local ideal para foodies e pessoas que procuram divertimento.

E é tudo o que imaginava do Japão moderno: restaurantes grandes e pequenos em caves e em primeiros andares, street food, ruas iluminadas com lanternas vermelhas e outras sinaléticas e luzes néon; lojas de brinquedos, lojas de jogos de arcada... mas o melhor são as pessoas. Os homens parecem não saber comprar fatos do seu tamanho, as mulheres não conjugam as cores e chinelam sapatos demasiado grandes para os seus pés; as meninas em idade escolar andam com os seus uniformes de saias plissadas; há cortes de cabelo para todos os gostos, mas não há tatuagens e piercings; há bebés e crianças com caras adoráveis, e casais que passeiam de mãos dadas; há mulheres adultas com malas em formato de pikachu e homens adultos que seguem jogos de dança com coreografias femininas - não há vergonhas, há muita gente na rua a rir e a divertir-se.

Claro que tivemos de provar street food, mais precisamente takoyakis (uma espécie de bolinhos de polvo), e fomos experimentar aqueles jogos em que se tenta apanhar um peluche com uma garra. Sem sucesso, lamento informar...

Dotonbori merece a visita de quem tenha algum tempo em Osaka, porque contra-balança a ideia do japonês workaholic e sério, e dá-nos o outro lado.

Amanhã partiremos para Quioto bem cedo para continuarmos a explorar esta cultura centenária.

É em alturas como esta, enquanto escrevo este relato no silêncio da noite, após um dia muito bem passado, que me apercebo do quão privilegiada sou pela vida que tenho e por poder viajar pelo mundo e conhecer outras culturas - esta é, definitivamente, a verdadeira riqueza.

Arigato!