segunda-feira, 4 de maio de 2020

A Laura foi à descoberta da Terra do Sol Nascente - parte 4

A Laura decidiu ir à descoberta da cultura ancestral do Japão no passado Setembro. Hoje descobrimos o que afinal aconteceu ao tori de Miyajima e relembramos Hiroshima, um exemplo de resiliência e de esperança. Em nome próprio, a Laura conta as suas aventuras na Terra do Sol Nascente. Miyajima e o tori "desaparecido", e Hiroshima cheia de esperança Hoje, 25/09 (4ªfeira), acordámos cedo e fomos para o ponto de encontro para a visita guiada em grupo a Miyajima e Hiroshima, perto da estação de Quioto. Não pudemos tomar o pequeno-almoço no hotel, porque a visita começava às 7h50 e, aparentemente, os pequenos-almoços só começam às 7h (em Osaka também era assim), mas prevenimo-nos na noite anterior e fomos a um supermercado. A partir do ponto de encontro fomos para a estação de Quioto para apanharmos o shinkansen para Hiroshima. É cerca de 1h30 de viagem, pelo que chegámos pelas 10h. O grupo foi recebido pela guia na plataforma da estação de Hiroshima e foi encaminhado para o autocarro em que iríamos fazer a visita. Fomos directos apanhar o ferry para Miyajima (25-30 minutos desde a estação) que demora menos de 10 minutos. Como saberão, Miyajiima é famosa pelo seu tori e shrine dentro de água que proporciona uma imagem fabulosa (e fotografias também!). Só que, adivinhem só... não só estava maré baixa, como o tori estava em processo de restauro! Ainda assim, valeu muito a pena a visita e só tivemos pena de não ter mais tempo para explorar (apesar de a ilha ser pequena).

Photo by Laura Filipe

Vimos o shrine por dentro, o tori (ainda que totalmente coberto) e babámo-nos mais um pouco com os veados selvagens que vivem em Miyajima. Pois, eu também pensava que só existiam em Nara. Mas aqui não é permitido alimentá-los e há que ter alguma atenção, porque os veados daqui são conhecidos por tentar roubar sacos de plástico em busca de comida - ainda assim, são dóceis e deixam fazer festinhas. No final da visita ao shrine, aproveitámos o tempo livre para passear mais um pouco e almoçar. Experimentámos okonomiyaki, uma massa com vários toppings, tudo salteado - muito saboroso - e aqui a especialidade é okonomiyaki de marisco, especialmente de ostras (que na ilha são comidas cozinhadas em vez de cruas). Mas como nenhum dos dois é amante de ostras, optámos pelo standard. Fizemos depois a viagem de ferry e autocarro de regresso a Hiroshima para visitar o Parque e o Museu em homenagem às vítimas da bomba atómica. Começámos pelo Parque, em que vimos o A-Bomb Dome, um dos edifícios que, apesar de estar praticamente no hipocentro da explosão, sobreviveu e foi preservado pela cidade. Não sei explicar a sensação de olhar para as entranhas de um edifício outrora perfeitamente funcional. Foi impressionante também ver um tori de pedra que sobreviveu à explosão.

Photo by Laura Filipe

Ficámos a saber que a explosão ocorreu pertíssimo de uma escola primária e que muitas crianças morreram. Por esse motivo, e, em especial, por causa de uma menina chamada Sadako (que estando extremamente doente, todos os dias fazia passarinhos de origami para que o seu desejo de recuperação se concretizasse, embora sem sucesso...) foi inaugurado o monumento de homenagem a todas as crianças que sofreram com a bomba atómica. Ainda hoje, crianças e adultos colocam corrente de passarinhos de papel no monumento, e um pouco por todo o Parque que são, gradualmente, recolhidos e reciclados pela cidade e transformados em postais. Ao chegarmos, um grupo de crianças em visitas de estudo (com os seus adoráveis uniformes) cantavam em frente ao monumento. Embora apenas percebesse palavras soltas, a mensagem era de esperança por um futuro com mais amor e, sobretudo, paz. Ainda agora, ao relembrar este momento, me sinto emocionada pela pureza das vozes daquelas crianças que cantam pelas que perderam as suas.

Photo by Laura Filipe

Continuámos a caminhar pelo Parque que tem um sino que é tocado pelos visitantes a desejar a paz mundial. Existe também uma vala comum para as pessoas que estavam demasiado desfiguradas para serem reconhecidas e que foram ali colocadas a repousar sob o olhar de Buda, para que as suas almas fossem salvas e pudessem encontrar paz. Existe ainda uma parte muito bonita do Parque (já em frente ao Museu) com uma chama que arde eternamente enquanto existirem bombas nucleares no mundo. A visita a Hiroshima não é fácil, mas o "pior" ainda estava para vir. Seguimos para o Museu da Paz. Não sei o que esperava, honestamente, mas não estava preparada para o que encontrei. Nunca percorri um museu em que o silêncio fosse tão absoluto e, ao mesmo tempo, tão ensurdecedor. Em que os semblantes passavam de incrédulos a tristes com cada passo. O Museu explora os acontecimentos do dia do bombardeamento e as consequências dos dias seguintes devido à radiação, com histórias dos sobreviventes e dos que não sobreviveram. As fotografias são explícitas, nuas, cruas e não poupam ninguém. Não há panos quentes, apenas factos. É um murro no estômago e um aperto no peito que dura cerca de 1h30. Não será uma visita para toda a gente, mas é um confronto importante, pois somos obrigados a sentir o desespero daquelas pessoas. E é importante para que não existam mais "Hiroshimas". No entanto, o Museu termina com uma nota de esperança, relatando casos de sobreviventes que refizeram as suas vidas. A própria cidade é um símbolo de esperança, resiliência e recuperação, já que começaram a desenvolver a cidade quase de imediato após o bombardeamento (ironicamente, as suas fábricas não foram atingidas).

Photo by Laura Filipe

Ao sairmos do Museu fomos agraciados com um belíssimo pôr-do-sol. Regressámos de autocarro até à estação de Hiroshima e de shinkansen até Quioto. Fomos jantar algo simples e rápido e preparar a mala para as próximas 4 noites sem a bagagem principal (que seguirá amanhã, 26/09, directa para o hotel de Tóquio).

Sem comentários:

Enviar um comentário