De acordo com o P3, Astana é atualmente considerada como a capital "mais estranha" do mundo. Veja neste artigo, quais os motivos para esta curiosa designação.
Astana brotou expressivamente da terra, rugindo cimento,
metal e vidro luzente, no espaço de poucos anos. Muitos milhares de milhões de
dólares provenientes da receita da extracção de petróleo, o principal sustento
da economia cazaque, deram forma ao plano director municipal delineado pelo
japonês Kisho Kurokawa, que se baseou numa tese filosófica de desenvolvimento
urbanístico criada pelo próprio: a chamada “arquitectura de simbiose”. Kurokawa
faleceu em 2007 deixando para trás um plano que deveria ficar concluído apenas
em 2030; entretanto, o projecto já sofreu inúmeras alterações que nem sempre
vão ao encontro do que foi delineado pelo arquitecto nipónico.
Apesar da ínfima população de 16 milhões — tendo em conta a
área do país, que corresponde a 30 vezes a área de Portugal continental – e da
enorme margem de lucro do Estado, proveniente da exportação do barris de
petróleo e de gás natural, a riqueza não chega a todos os habitantes do
Cazaquistão. Em Astana, torna-se claro o motivo por que tal se verifica. O
investimento público é estonteante e a abundância e a opulência são uma
linguagem omnipresente no tecido urbano da cidade. O fotógrafo israelita Tomer
Ifrah, o autor da série Planned City, contou ao P3, em entrevista, que
“caminhar nas ruas de Astana é surreal”. “Por um lado, a arquitectura é
exuberante, os edifícios são grandiosos, os centros comerciais são colossais,
mas, ao mesmo tempo, há um silêncio solene em todos os locais. Por vezes, caminhava
em partes da cidade onde não via absolutamente ninguém na rua.” Ifrah descreve
a capital do Cazaquistão como "uma estranha combinação entre extravagância
e silêncio", como um gesto de um grito inaudível. O fotógrafo esteve em
Astana em Julho e Outubro de 2017 e confessa ter sido seduzido pela ideia de
uma cidade construída de raiz a partir de um plano director, como Washington
D.C., Camberra ou Brasília.
Astana foi construída com o intuito de se tornar um exemplo
de excelência urbanística; um exemplo de sofisticação, de vanguardismo. Frank
Albo, historiador de arquitectura e autor do livro Astana: Architecture, Myth
and Destiny, descreve a cidade da seguinte forma: “Vê-se uma mistura de
pós-modernismo com correntes de arte da Ásia Central, toques de decoração
muçulmana, de barroco russo, de neoclassicismo e orientalismo, todas combinadas
numa espécie de Las Vegas meets Disneyland sob influência de esteróides
nacionalistas.” A cidade está repleta de arranha-céus — o maior encontra-se em
construção, terá 88 andares e um caminho-de-ferro privativo para o aeroporto.
Por outro lado, existem também referências claras ao passado e à tradição
nómada na arquitectura local: o centro comercial Khan Shatyr, por exemplo, foi
desenhado pelo arquitecto inglês Norman Foster com o intuito de aludir às
tendas dos nómadas cazaques. Por dentro, ao invés, é um edifício luxuoso que
contém uma praia artificial cuja areia foi importada das ilhas Maldivas.
As viagens do fotógrafo Tomer Ifrah podem ser acompanhadas
através da sua conta no Instagram.
Fonte: P3. Artigo original aqui.
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