segunda-feira, 4 de abril de 2016

Cambodja: a voar por cima das águas


Uma jornada de barco de Siem Reap a Battambang, ao longo do lago Tonlé Sap, um ecossistema ímpar no mundo. E uma viagem no tempo até um santuário inspirador.
Siem Riep, a porta de entrada de Angkor, cresceu na proporção do acréscimo de popularidade da antiga capital khmer e da expansão dos fluxos turísticos para a região. É o principal suporte logístico para os mais de dois milhões de visitantes que Angkor recebe em média por ano e tem, também, os seus próprios atractivos, mesmo se um punhado se confina a um tipo de animação comum noutros lugares – os bares em espaço aberto com música ao vivo de (presumível) agrado dos forasteiros, a comida de rua, as barraquinhas de batidos de fruta tropical a um dólar e, ainda, as sopas vegetarianas da gastronomia khmer e o sempre bem apimentado lak lok, noutros algures mais populares e mais afastados da excitação turística.  
Em todo o caso, Siem Reap, para além dos preâmbulos hedonistas que antecipam o mergulho na selva de Angkor, pouco tem para cativar o turismo cultural. Para um complemento da visita à antiga capital khmer, é preciso arriscar uma aventura por um território militarizado, ainda há pouco tempo palco de confrontos entre os exércitos da Tailândia e do Camboja, na província de Preah Vihear, uma região em que os khmers vermelhos resistiram muito para além da queda do regime de Pol Pot, deixando a mortífera herança de campos que ainda hoje permanecem por desminar.
Após longas horas de solavancos, embarcados nas velhas carripanas Tata dos transportes públicos cambojanos, chegamos à fronteira tailandesa e ao templo Preha Vihear, um brilhante exemplo da arquitectura khmer. O Preha Vihear mantém-se objecto de disputa entre o Camboja e a Tailândia, tendo relançado o desentendimento entre os dois países em 2008, o ano da sua classificação como Património Mundial pela UNESCO.
Mas não se ocupa agora a narrativa com essas andanças pelo extremo norte do Camboja. Vai o viajante noutra direcção, a de poente, animado por outras seduções. Viu Angkor, já sem a ingenuidade de António da Madalena – o português que foi o primeiro europeu a meter-se por aquelas selvas –, e agora dá-lhe para ir espreitar o milenário templo de Banam, lá para os lados de Battambang.
Abala de autocarro ou de barco, navegando através do lago Tonlé  Sap? Tem de desempatar até ao cair da noite, aconselha o patrão da guesthouse, que se declara pronto para mandar vir o bilhete através de um daqueles esquemas locais, muito propícios, que permitem à hotelaria do Sudeste Asiático facilitar a vida aos viajantes.
O Tonlé Sap desfaz a hesitação com o trunfo de uma proverbial singularidade do ecossistema. Isto ouviu dizer, ou leu em fonte esquecida, o viajante, que pouco mais sabe quando chega a hora de pousar os pés no barco. Vai, enfim, e depois de umas semanas a cismar na viagem, dar uma vista de olhos ao lago. Consigo leva um pdf da UNESCO para se inteirar do assunto ao longo da navegação – assim como quem se prepara com um romance policial para um cruzeiro de luxo.
Au revoir, dear Mr. Ho
Mal amanhece, ainda com as primeiras cantorias da passarada, somos recolhidos por um tuk-tuk  à porta da Oral d'Angkor Guest House. Sanae Kondo, uma japonesa de Okinawa que se prepara também para a aventura da jornada aquática pelo Tonlé Sap, pousa a mochila no veículo e faz um aceno de despedida a Mr. Ho-Chi-Minh, como ela gosta de se referir ao anfitrião daguesthouse, com quem se entretinha às vezes a falar em "franglês", mesclando o seu ágil inglês com um francês muito assim-assim. Mr. Ho, circunspecto e venerável na sua barbicha prateada, pontiaguda, olhos miúdos e expressão pensativa, acaba de cumprir as suas orações matinais à beira de um incensário budista, num canto do pátio, a dois metros da mesa de bilhar.
Sorri com o olhar um sorriso reservado, quase invisível, mas desses que nos ficam na memória até ao último dia de vida, e suspira em voz baixa: "Au revoir mes amis, bonne journée". Muito pouca gente fala francês na Indochina, do antigo colonizador sobraram sobretudo a arquitectura e os croissants. Um exagero? Apenas um nada de quase nada – às vezes o estilo obriga a um inócuo il faut dire n’importe quoi. Afinal, dos mais ou menos inimigos que bombardearam com prodigalidade os vizinhos da região – os Laos e os Vietnames – ficaram também a língua de Shakespeare, a desbaratar a de Hugo, os refrigerantes apátridas, os bares com nomes como Apocalipse Now. E Sodomas neo-capitalistas ilustradas com bandeiras vermelhas guarnecidas com uma foice e um martelo: Sanae tinha chegado uma semana antes de Saigão (Saigon, ainda, para muitos vietnamitas) e contara-me o que mais a tinha impressionado na agora estância de férias de veteranos de guerra norte-americanos e outros turistas nostálgicos de novidades aventurosas, orientais, exóticas.
O barco vai de saída
No cais da aldeia de Cheong Khneas, a uma dúzia de quilómetros de Siem Reap, há muitos barcos – de passageiros ou simples canoas de pescadores – ancorados. Os viajantes são encaminhados aleatoriamente para os três que estão prestes a navegar para Battambang. Perco-me de Sanae, que avisto depois sentada sobre a cobertura de uma barcaça de madeira, numa vaga posição de ioga e encostada à mochila com o seu eterno sorriso de Buda indiferente ao mundo. Sento-me também sobre o tejadilho de um batel altamente suspeito quanto a questões de segurança: esguio, madeira colorida de fresco a cobrir as cicatrizes  de muitas monções debaixo de chuva. O tejadilho do Chann Na enche-se até já não haver espaço para esticar as pernas, as mochilas dos backpackers ajeitadas para fazerem de almofadas durante as dez horas de viagem ao sol até Battambang, capital de uma das províncias mais ocidentais do Camboja, confinante já com o Golfo da Tailândia.
Largamos numa algazarra de cordas a voar e gritaria, e durante a primeira meia hora o Chann Na parece uma jangada arrastada por um fluxo de águas barrentas desde o canal de Cheong Khneas. Atravessamos depois, ao longo de mais de uma hora, uns corredores estreitos entre vegetação flutuante ou enraizada entre fugazes pedaços de terra aqui e ali visitados por canoas de gente à pesca. Passamos devagarinho por estes canais e assusta-se a passarada, um ou outro peixe salta desafiante, há dois, talvez três, passageiros que arriscam o desequilíbrio numa fotografia atrevida. O alvoroço tem fundamento neste mundo inscrito parcialmente na lista da Convenção de Ramsar e depositário de uma muito citada biodiversidade.
Mais adiante, à saída de um canal sitiado por vegetação arbustiva mais densa, o horizonte amplia-se de rompante e o vasto espelho azulíssimo do lago Tonlé Sap, um céu debaixo de outro céu, faz a sua aparição num além ainda um pouco distante. É para lá que se aguça a proa do barco, que se apressa agora mais ligeiro, como se a voar por cima das águas, como diria Fernão Mendes Pinto, que por bandas próximas daqui andou também velejando, há uns quatro séculos, no seu caminho de Patane a Ayutthaya, a então capital do reino do Sião.
Endereços que mudam
A primeira aldeola flutuante, se não se contar Cheong Khneas, o porto de partida: casinhas móveis, flutuantes, com telhados de zinco, uma igrejinha azul, casebres com ar de galinheiros onde mora gente, um edifício governamental todo janota, muitos barcos nas suas fainas de pesca e de transporte de mercadorias deslizando por uma larga avenida de água, crianças brincando nos únicos quintais possíveis, metidas em grandes bacias de alumínio a fazer de barquinhos de brinquedo.
A vida corre toda sobre a água neste mundo de gente anfíbia que muda de endereço quando muda a estação: durante a monção, com a subida das águas, o casario troca de poiso e de configuração, um pouco como acontece com as aldeias flutuantes dos Uros do lago Titicaca, nos Andes. É gente anfíbia e mais aquática do que outra coisa. Vão a terra uma ou outra vez, mas quase tudo se faz de barco. Vai-se às compras de barco, como aos templos, à igreja cristã e azul, a casa dos vizinhos, à escola. Com as suas mochilinhas e as fardas do regulamento, lá vai a petizada toda a remar.
O Tonlé Sap, classificado como Reserva da Biofera desde 1997, é tudo para esta gente. Não é apenas a maior reserva de água doce do Sudeste Asiático; é também uma imensa reserva de pesca, uma das mais fecundas do mundo. Está agora ameaçado pela pressão excessiva das actividades piscatórias – tragicamente o único recurso disponível para as populações das aldeias flutuantes dispersas pelo lago. O governo legisla constrangimentos, reproduzindo as lógicas de conservação habituais entre os sítios classificados como Reserva da Biosfera – mas sem outros programas de compensação eficazes, o ciclo de pobreza tende a agravar-se. Num tão belo cenário, de abundância ameaçada, o que não fica nas imagens digitais dos viajantes em trânsito é o que Wang Jian, um jornalista de Singapura que segue também a bordo do Chann Na, sintetiza no que para ele poderá ser o título adequado para a reportagem que tenciona escrever para um jornal de Singapura: The dark side of the lake.
Miradouro em movimento
Às tantas, a tarde a meio e dissipadas as sete hipotéticas horas de jornada, na previsão mais ilusionista, vai uma parte dos passageiros inconsolável já de demasiada aventura, ou da falta dela, encurralada a expedição numa peganhosa monotonia... Um ramerrão enfadonho – há-de matutar a sonolência de uns quantos, a cabecear com o calor e o balanço –, este de só água e céu a vista alcançar e de os barcos só ao longe se darem a ver, que nem neles os indígenas se distinguem ao estender os braços no arremessar das redes, vagas silhuetas, apenas, em contraste com o clarão da linha do horizonte. Uns dormitam, numa aflição de (não) ver o tempo passar, tão calaceiro, outros recolhem-se, alheados da viagem, em leituras de best-sellers.
A dormência da luz, a humidade tropical e o sono quase fazem perder a transição: de um momento para o outro navegamos outra vez num braço de água, de novo enlameada, furando entre barrancos baixos e caniçais, num lanço a contra-corrente. Subimos agora o rio que vem de Battambang, o Sangkae, um dos muitos cursos de água que alimenta a reserva do Tonlé Sap. O motor da lancha ronca e as margens devolvem-nos um eco cavo e contínuo, belicoso, nada bucólico. É por estas bandas que se aclara a causa do desagrado dos pescadores locais por estas pitorescas jornadas de desocupados estrangeiros: enrolam-se as redes nas hélices intrusas e depois de arrastadas pausas para as libertar, com a barca a sacudir-se em espasmos, para ali ficam, rotas, retalhadas, sob o mirar submisso dos fotogénicos nativos.
Para um vago apaziguamento desta rudeza de cenário precisaremos de atingir, mais adiante, trechos abertos para o horizonte, onde panoramas mais desafogados nos darão a ver a faina dos camponeses, os campos amanhados para a sementeira do arroz, o labor de crianças e mulheres curvadas sobre a terra. Diante do barco – um espantoso miradouro em movimento – vai desfilando nas margens o casario repousado em estacas, construções em palafita tão comuns nestes sítios quanto as casas flutuantes que deixamos para trás, no lago: pobres e altivas, parecem elas próprias acenar-nos com tanta hospitalidade como os seus inquilinos, especados nas margens com canas de pesca, grandes bacias, enxadas ou um chapéu de palha nas mãos.
Um rio que corre às avessas
À volta do lago, o ecossistema inclui pântanos, terras aráveis, planícies que durante uma parte do ano se cobrem de plantações de arroz. Consoante a época, o cenário varia significativamente. A monção carrega os afluentes de água que fazem crescer o tamanho do lago. Mas há outro fenómeno hidrológico a pesar no aumento da área do Tonlé Sap para cerca de cinco vezes mais. Como o Mekong não consegue escoar, na zona do delta, o caudal inchado pela monção, ocorre um fenómeno de inversão da corrente no rio Tonlé Sap, um afluente homónimo que o liga ao lago. As águas excedentárias acabam por retornar, obrigando o Tonlé Sap  a correr às avessas e a contribuir para a ampliação exponencial do lago que sobrevém durante a monção. Desse rio, e das torrentes que avolumam o Mekong, já Camões nos dava conta no Canto X de Os Lusíadas, ao referir-se ao grande curso de água que atravessa a região: “Vês, passa por Camboja Mecom rio, / Que capitão das águas se interpreta; / Tantas recebe d’outro só no Estio, / Que alaga os campos largos e inquieta…”.
Tudo isto, versos à parte, se pode ler no tal pdf da UNESCO, razoavelmente minucioso e graficamente brilhante. Os números não são, todavia, eloquentes para (mais do que entender) sentir a imensidão oceânica deste pedaço do Camboja e a fragilidade da vida de quem come diariamente o pão que o diabo amassou mas porfia em ser fiel a esta singular pátria aquática.
Anoitece quando nos aproximamos de Battambang, após umas extenuantes dez horas de navegação. O cenário, mal iluminado pelo lusco-fusco, mostra as margens do rio Sangkae cobertas de palmeiras, enquanto uma neblina rasa desliza sobre o rio, onde a petizada anda chapinhando com grande alarido. Noutros rios, como no curso do Mekong através do Laos e do leste do Camboja, é a mesma coisa: o fim da tarde, hora de mais brando calor, é um tempo de reinação para a miudagem.
Ao desembarcar descobri que a lancha em que viajou Sanae chegou mais cedo – não foram tantos os percalços com as redes dos pescadores. Ela espera-me no cais de Battambang e é já noite cerrada quando nos despedimos de Wang. Um tuk-tuk deixa-nos à porta da Shangai Guesthouse e fica combinado que, no dia seguinte de manhã, Prak, o condutor, nos levará até ao templo de Banan, nos arredores da cidade. Mas só após um pequeno-almoço cambojano a tomar no velho mercado de traço arquitectónico colonial. Não podia imaginar, naturalmente, mas seria aí que travaria conhecimento com Achariya, uma cambojana descendente dos portugueses que se instalaram no país no final do século XVI e que acabaram por se tornar conselheiros e ministros do rei – e, mesmo, por fazer parte da família real.
Angkor e a costela de Banan
Ir a Roma e não ver o Papa. A expressão define o que seria uma viagem ao Oriente – ao Sudeste Asiático, particularmente – e não conhecer Angkor, símbolo do esplendor da civilização khmer e das vicissitudes históricas da região.
A antiga capital do reino khmer não foi apenas um importante centro político e religioso, foi também um produto de uma fusão cultural e arquitectónica que integrou referências hindus (a Índia legou expressivas matrizes culturais e religiosas a toda a região) e budistas, tendo a sua arte exercido profunda influência sobre manifestações artísticas em quase todo o Sudeste Asiático.
O fascínio que exerceu sobre viajantes de outros tempos pode bem ser aferido pelos termos da descrição que o cronista Diogo do Couto redigiu, a partir das notas de António da Madalena, o frade capuchinho português que terá sido o primeiro ocidental a ver Angkor, por volta do final do século XVI. O historiador português fala de uma “formosíssima cidade” e de um templo “estranho”, a que nenhum outro se poderia comparar em todo o mundo e que nenhuma pena seria capaz de descrever. Por ironia, o texto – a Relação de Angkor – não seria incluído na publicação da sua obra em Portugal. Outros missionários portugueses visitaram nessa altura Angkor e o Camboja, mas o trabalho de evangelização não foi fácil numa terra de sólidas convicções religiosas. Sobre isso desabafaria Gaspar da Cruz (que passou pelo Camboja a caminho das terras do Império do Meio) no seu Tratado em que se contam muito por extenso as cousas da China: “Como quer pois que os brâmanes sejam a mais rija gente de converter, por ser mui pegada a seus ritos e idolatrias sendo el Rei brâmane e seus estimados e mais privados brâmanes, é este um mui grande impedimento naquela terra para se poder fazer cristandade”.
O templo de Angkor Wat é apenas um dos que se conservam no vasto conjunto que reúne uma infinidade de edificações de carácter religioso – como os templos Bayon (conhecido pelas seus colossais rostos de pedra) e Preah Khan (o das raízes devorando os edifícios) – e civil (estruturas hidráulicas e extensos caminhos nos meandros da selva). Alguns destes templos foram objecto de restauro (não sem alguma polémica) pelo Archaelogical Survey of India nas últimas três décadas e a recomposição do Ta Prohm ainda prossegue, colocando sérios problemas técnicos em virtude do grau de desagregação e da acção das tentaculares raízes tropicais.
Um aspecto muito curioso deste enorme parque arqueológico é o facto de ser habitado – e por famílias cujos antepassados ali viveram há séculos, gente que se mantém, tal como eles, ocupada com o cultivo de campos de arroz. Para os visitantes mais atentos a outros signos que não, apenas, os dos tão assediados templos de Angkor, a observação das rotinas rurais dos seus habitantes pode ser um inestimável complemento da jornada, ao longo dos trajectos de bicicleta entre os templos. Pedalar pode ser, realmente, um dos meios mais estimulantes para aceder aos principais locais dentro do parque arqueológico, que chegam a distar quilómetros entre si.
Sobre as influências e o contexto arquitectónico de Angkor Wat – cuja construção se iniciou na primeira metade do século XII –, formou-se a convicção, a certa altura, de que o templo de Banan pode ter sido o modelo que os arquitectos khmers privilegiaram. Banan fica a cerca de vinte quilómetros de Battambang, seguindo uma pitoresca estrada que atravessa várias aldeias e arrozais e flui ao longo do rio Sangkae. Para se chegar ao templo há que subir uma longa e íngreme escadaria, que vence um declive de quatrocentos metros. O templo de Banan, actualmente um santuário budista, sugere a arquitectura do Angkor Wat, embora os cinco prasats (torres) não sejam tão elevados nem a arte de figuração em baixo-relevo revele a sofisticação do segundo: lembrar-se-á o viajante, com secreto júbilo, da apurada sensualidade das apsaras representadas na pedra dos templos de Angkor Wat e Bayon. Para observar algo de arte figurativa semelhante, o Museu de Battambang conserva fragmentos ornamentais em baixo-relevo, assim como alguns dos lintéis do Banan.
A hipótese avançada em tempos sobre o parentesco com Angkor Wat ficou por provar, baralhada pela cronologia de edificação que não deixou comprovada a anterioridade de Banan. Se essa condição vier algum dia a ser reconhecida, então, sim, poder-se-á arriscar a afirmação de que daqui viajou uma das costelas de Angkor Wat.
Battambang, turismo e voluntariado
No caminho que vai de Battambang a Banan, uma surpresa aguarda o viajante: vinhedos, os únicos do Camboja. Tintos, brancos e, até, um brandy, podem ali ser degustados. Battambang, cidade de província afamada pelo seu breve casario colonial (alguns belos edifícios Art Déco, como os do mercado e da velha estação ferroviária), não tem Angkor à mão, como Siem Reap, mas além do milenar Banan conta com muitos e variados motivos a justificar a estância. E mesmo no capítulo dos templos angkorianos, Banan não é o único na região: o semi-arruinado Wat Ek Phnom, encafuado no meio da selva, não faria má figura numa dessas fitas sazonais de Hollywood animadas por piruetas de arqueólogos aventureiros.
Para os dias todos haverá um qualquer programa ajustado a diferentes preferências e sensibilidades; o agora turístico, mas ainda útil à população, comboio de bambu (uma simplificação artesanal do extinto serviço ferroviário cambojano), o pequeno museu com relíquias arqueológicas retiradas dos vários templos à volta da cidade, os itinerários ao longo do rio, as aldeias e o mundo rural dos arrozais nos arredores, o mercado central e as suas bancas de comida popular, a colina de Phnom Sampeau e uma mão-cheia de belos templos e de estátuas dispersas pelas furnas e pelo arvoredo. E ainda, as killing caves, grutas que foram palco das atrocidades dos khmers vermelhos. É um cenário impressivo, com um Buda sereno repousando ao lado de ossadas e dos crânios.
Se o viajante desejar atenuar ou compensar a “pegada cultural” deixada pelo turismo, há pelo menos duas formas. A primeira é fazer-se espectador do Circo de Battambang, na Phare Ponleu Selpak Circus’s School, cuja receita reverte em parte para uma ONG local (informação disponível emwww.phareps.org); a outra será visitar uma das escolas precárias das aldeias dos arredores e ajustar com os responsáveis formas de apoio, que podem passar, também, pelo agora tão trendy voluntariado, que em Battambang parece ser quase tão comum como o turismo. Uma sugestão: a Slarkarm English School, uma escola situada numa aldeia (Slarkarm) situada a sete quilómetros de Battanbang (tel. :855-12815968, mais informação emwww.slarkramenglishschool.com).

GUIAT PRÁTICO
Como ir
Não há voos directos entre Portugal e o Camboja, pelo que é necessário fazer escala numa cidade europeia. A partir de Paris, por exemplo, há ligações directas frequentes para Phnom Penh, a capital. O aeroporto internacional de Siem Reap recebe também voos internacionais, nomeadamente de capitais estrangeiras na região (Kuala Lumpur e Banguecoque).
Quando ir
O melhor período do ano para viajar para o Camboja é o da estação seca, entre Novembro e Maio. Viajar durante a monção tem os seus inconvenientes (embora por vezes a chuva não dure mais do que duas ou três horas), designadamente a dificuldade de acesso a zonas mais remotas sem estradas asfaltadas, mas a época também pode ter algumas vantagens para a navegação no Tonlé Sap.
Onde ficar
Em Siem Reap
Angkor Spirit Palace: três estrelas, confortável e com carácter, um pouco afastado do centro, mas com a vantagem da tranquilidade, entre jardins e espaços verdes.
www.angkorspiritpalace.com
Oral D’Angkor Guest House: um endereço acolhedor, a dez minutos a pé do centro.
Tepvong Street, Siem Reap
Tel.: 855 (63) 967 345)
Em Battambang
Bambu Hotel: excelente relação qualidade-preço, com espaços exteriores muito agradáveis e um toque khmer na arquitectura e na decoração.
Phum Romchek, 5, Sangkat Rottanak
www.bambuhotel.com
Shang Hai Guesthouse: excelente opção para backpackers, central e com quartos duplos e individuais.
Prekmohatep Village, Sangkat Svaypor
Tel.: 855 (97) 6789070
Informações úteis
Os cidadãos portugueses podem obter visto à chegada ao Camboja, tanto no aeroporto internacional de Phnom Penh como no de Siem Reap. A moeda local é o riel (uma corruptela do antigo real português) e o dólar norte-americano circula também no país. Nas ATM os cartões bancários estrangeiros apenas permitem fazer levantamentos em dólares.
Fonte: Fugas

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