Os
lustres estão reluzentes, os frescos bem restaurados, o vitral imponente. A
festa regressa ao palácio e desta vez o povo pode entrar.
Já há música ambiente, luzes por trás do bar, bebidas
arrumadas, fruta em cima do balcão. Mas ainda há escadotes no chão, restos de
andaimes, berbequins. Quando a Fugas visitou o Palácio Chiado –
antigo Palácio Quintela – faltava menos de uma semana para a sua abertura que,
se não houver surpresas de última hora, será já esta quarta-feira. A casa
setecentista volta a abrir as portas e para entrar não é preciso um convite
lacrado. Só vontade de beber um copo ou comer qualquer coisa.
Passamos a enorme porta de madeira com os seus leões nos
puxadores mas não nos pomos a imaginar as senhoras a subir levemente os
vestidos para dar um passo atrás do outro. Por este espaço amplo espalham-se
pequenas mesas quadradas em madeira escura ou lioz (e vasinhos com plantas de
plástico em cima), duas pilhas de colchões quadrados no chão, uma ou outra
poltrona à esquerda.
Duarte Cardoso Pinto, um dos sócios, faz a visita guiada.
À direita, então, o bar. Ao fundo, a cozinha antiga – ainda vemos azulejos e
duas chaminés originais; há réstias de alhos, cebolas e louro penduradas na
parede. Instalaram-se aqui o Burgers&Feikes (do U-try, e que terá, entre
outras originalidades, um hambúrguer de cozido); o Meat Bar (derivado do
restaurante Atalho), que aposta em carne de boa qualidade; o Local Chiado (pelo
Local – Your Healthy Kitchen, criado pela blogger Maria
Gray), de alimentação saudável; e o Páteo no Palácio (do Páteo do Petisco),
dedicado aos petiscos tradicionais portugueses. “Queríamos uma coisa que representasse
a portugalidade, mesmo nos hambúrgueres”, diz Duarte Cardoso Pinto. A ideia é
agarrar no prato e sentar onde se quiser. Uma espécie de Mercado da Ribeira em
cenário chique.
Sobe-se a imponente escadaria (que tem ainda os candeeiros
originais) e acede-se às salas nobres (onde sobe também o preço). O espaço
dividido por três zonas distintas está concessionado à Espumantaria do Mar
(pela Espumantaria, com o acompanhamento de Vítor Hugo, chef executivo
do 100 Maneiras); o DeLisbon (pela Charcutaria Lisboa, com enchidos, queijos e
tapas, com carta e acompanhamento de Vítor Sobral); e na ala esquerda, o
Sushic Chiado, de comida japonesa (que tem estado instalado em Almada, e que é
considerado pelos utilizadores do TripAdvisor o segundo melhor restaurante
japonês fora do Japão).
Aqui temos já quatro sushimen a
trabalhar afincadamente. Do lado oposto, a vista para o Largo Barão Quintela e
para a Rua do Alecrim, que termina com o rio ao fundo.
As obras de restauro das salas, de tectos abobadados e
cobertas de frescos (de alegorias mitológicas), levaram seis meses a concluir,
diz Duarte Cardoso Pinto, que não quer adiantar o montante do investimento aqui
feito. Depois, foram mais cinco para adaptar o espaço. Frederico Valsassina
assinou o projecto de arquitectura, Elvira Barbosa o do restauro, Catarina
Cabral encarregou-se da decoração.
Já a ampliação feita em 1822 foi dirigida pelo arquitecto
Joannes Baptista Hilbrath, com o estucador Félix Salla, o decorador Giuseppe
Cinatti e os pintores António Manuel da Fonseca e Cirilo Volkmar Machado,
indica-nos a cronologia do livro Palácio Quintela – Iconologia
do Programa Pictórico, de Manuel J. Gandra. O
livro assinala também: “1801 – A 11 de Dezembro, nasce, no Palácio
da Rua do Alecrim, o futuro 2.º Barão de Quintela, também batizado Joaquim
Pedro de Quintela. 1.º Conde de Farrobo. Uma figura que, apesar da relevância
na vida política, social e cultural de Portugal, será para sempre lembrado pela
sua faceta dos excessos e festins desmesurados. E intrinsecamente associado ao
Palácio nasce então a famosa expressão: ‘farrobodó’.”
Depois da fuga para o Brasil do barão Quintela (defensor
do liberalismo), o palácio abrigou o Grémio Literário (entre 1873 a 1874), e em
1874 foi adquirido em hasta pública por Francisco Augusto Mendes Monteiro
(“figura de cultura e excentricidade, teve das últimas grandes intervenções
artísticas no Palácio”), que mandou construir também a Quinta da Regaleira, em
Sintra. Foi ainda o Museu Instrumental Português (em 1915), antes de acolher o
Instituto de Arte e Decoração – Escola Internacional de Decoradores (IADE), em
1970.
Certamente que não era preciso pagar à saída nas antigas
festas de arromba – ou à grande e à francesa, porque consta que a expressão
nasceu justamente aqui, quando o general Junot, durante a primeira invasão
francesa, fez desta a sua residência oficial. Agora, não há outro remédio: são
15 euros por pessoa no piso 0 e entre os 25 e os 50 euros no piso 1.
Palácio Chiado
Rua do Alecrim, 70 - Lisboa
Tel.: 210 101
184
Email: geral@palaciochiado.pt
Horário: de domingo a quarta-feira entre as
12h e as 24h; de quinta a sábado entre as 12h e as 2h
Fonte: Fugas
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