sexta-feira, 15 de abril de 2016

O "farrobodó" volta ao Palácio Chiado


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Os lustres estão reluzentes, os frescos bem restaurados, o vitral imponente. A festa regressa ao palácio e desta vez o povo pode entrar.

Já há música ambiente, luzes por trás do bar, bebidas arrumadas, fruta em cima do balcão. Mas ainda há escadotes no chão, restos de andaimes, berbequins. Quando a Fugas visitou o Palácio Chiado – antigo Palácio Quintela – faltava menos de uma semana para a sua abertura que, se não houver surpresas de última hora, será já esta quarta-feira. A casa setecentista volta a abrir as portas e para entrar não é preciso um convite lacrado. Só vontade de beber um copo ou comer qualquer coisa.
Passamos a enorme porta de madeira com os seus leões nos puxadores mas não nos pomos a imaginar as senhoras a subir levemente os vestidos para dar um passo atrás do outro. Por este espaço amplo espalham-se pequenas mesas quadradas em madeira escura ou lioz (e vasinhos com plantas de plástico em cima), duas pilhas de colchões quadrados no chão, uma ou outra poltrona à esquerda.
Duarte Cardoso Pinto, um dos sócios, faz a visita guiada. À direita, então, o bar. Ao fundo, a cozinha antiga – ainda vemos azulejos e duas chaminés originais; há réstias de alhos, cebolas e louro penduradas na parede. Instalaram-se aqui o Burgers&Feikes (do U-try, e que terá, entre outras originalidades, um hambúrguer de cozido); o Meat Bar (derivado do restaurante Atalho), que aposta em carne de boa qualidade; o Local Chiado (pelo Local – Your Healthy Kitchen, criado pela blogger Maria Gray), de alimentação saudável; e o Páteo no Palácio (do Páteo do Petisco), dedicado aos petiscos tradicionais portugueses. “Queríamos uma coisa que representasse a portugalidade, mesmo nos hambúrgueres”, diz Duarte Cardoso Pinto. A ideia é agarrar no prato e sentar onde se quiser. Uma espécie de Mercado da Ribeira em cenário chique.
Sobe-se a imponente escadaria (que tem ainda os candeeiros originais) e acede-se às salas nobres (onde sobe também o preço). O espaço dividido por três zonas distintas está concessionado à Espumantaria do Mar (pela Espumantaria, com o acompanhamento de Vítor Hugo, chef executivo do 100 Maneiras); o DeLisbon (pela Charcutaria Lisboa, com enchidos, queijos e tapas, com carta e acompanhamento de Vítor Sobral); e na ala esquerda, o Sushic Chiado, de comida japonesa (que tem estado instalado em Almada, e que é considerado pelos utilizadores do TripAdvisor o segundo melhor restaurante japonês fora do Japão).
Aqui temos já quatro sushimen a trabalhar afincadamente. Do lado oposto, a vista para o Largo Barão Quintela e para a Rua do Alecrim, que termina com o rio ao fundo.
As obras de restauro das salas, de tectos abobadados e cobertas de frescos (de alegorias mitológicas), levaram seis meses a concluir, diz Duarte Cardoso Pinto, que não quer adiantar o montante do investimento aqui feito. Depois, foram mais cinco para adaptar o espaço. Frederico Valsassina assinou o projecto de arquitectura, Elvira Barbosa o do restauro, Catarina Cabral encarregou-se da decoração.
Já a ampliação feita em 1822 foi dirigida pelo arquitecto Joannes Baptista Hilbrath, com o estucador Félix Salla, o decorador Giuseppe Cinatti e os pintores António Manuel da Fonseca e Cirilo Volkmar Machado, indica-nos a cronologia do livro Palácio Quintela – Iconologia do Programa Pictórico, de Manuel J. Gandra. O livro assinala também: “1801 – A 11 de Dezembro, nasce, no Palácio da Rua do Alecrim, o futuro 2.º Barão de Quintela, também batizado Joaquim Pedro de Quintela. 1.º Conde de Farrobo. Uma figura que, apesar da relevância na vida política, social e cultural de Portugal, será para sempre lembrado pela sua faceta dos excessos e festins desmesurados. E intrinsecamente associado ao Palácio nasce então a famosa expressão: ‘farrobodó’.”
Depois da fuga para o Brasil do barão Quintela (defensor do liberalismo), o palácio abrigou o Grémio Literário (entre 1873 a 1874), e em 1874 foi adquirido em hasta pública por Francisco Augusto Mendes Monteiro (“figura de cultura e excentricidade, teve das últimas grandes intervenções artísticas no Palácio”), que mandou construir também a Quinta da Regaleira, em Sintra. Foi ainda o Museu Instrumental Português (em 1915), antes de acolher o Instituto de Arte e Decoração – Escola Internacional de Decoradores (IADE), em 1970.
Certamente que não era preciso pagar à saída nas antigas festas de arromba – ou à grande e à francesa, porque consta que a expressão nasceu justamente aqui, quando o general Junot, durante a primeira invasão francesa, fez desta a sua residência oficial. Agora, não há outro remédio: são 15 euros por pessoa no piso 0 e entre os 25 e os 50 euros no piso 1.
Palácio Chiado
Rua do Alecrim, 70 - Lisboa
Tel.: 210 101 184
Email: geral@palaciochiado.pt
Horário: de domingo a quarta-feira entre as 12h e as 24h; de quinta a sábado entre as 12h e as 2h

Fonte: Fugas

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