quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

A viagem da Raquel a Moçambique - parte 2

Photo by Raquel Ribeiro

Colunas de mosquitos formam-se nas margens do lago Niassa, mas muito longe, do lado do Malawi. Não chegarão cá. 
Hoje de manhã não há vento. As águas do lago estão translúcidas. Percebe-se onde estão as rochas e os troncos de árvores apodrecidos.
Os improváveis gatos europeus de cauda farfalhuda escondem-se no capim metamorfoseados de parentes primevos.
Ontem à noite ouvi histórias de aventura e resistência de quem cá vive emigrado há décadas. Fui para a cama ler um livro americano enquanto ouvia os batuques de festa na aldeia. E todas as inspirações contraditórias e estranhas que me assomavam aumentavam o sentimento da Africa para sempre impenetrável, misteriosa e indecifrável. 
É difícil comunicar, é duro mudar e é frustrante tentar mudar os outros aqui. Percebe-se o abandono, a resignação ou, em alternativa, a loucura. 
E respeita-se a imobilidade da sobrevivência, a rotina dos ciclos. 

Somos tratados com carinho pelos "papás" honorários do Mbuna Bay Lodge, Rebeca e André, e a sua equipa.
Há quem esteja aqui há meses.
Não temos pressa de ir embora.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

A viagem da Raquel a Moçambique - parte 1

Email enviado pela Raquel aos colegas da TravelTailors:

Voo TAP impecável, aparelho novo muito silencioso.

Aeroporto de Maputo pequeno mas decente. Quem tiver que apanhar voo doméstico a seguir, mais vale tratar do que precisa no terminal internacional (é ao lado, mas tem mais serviços).  No terminal doméstico há um café e um restaurante, ambos simpáticos e que servem bem. Só há câmbios no terminal internacional. 

O visto à chegada é tão óbvio que ninguém pergunta nada. É um pouco demorado simplesmente porque é Africa, há fila, the usual, não porque alguém complique. Custa 50 USD sharp (não 51, como alguém me disse).

É vital trocar dinheiro aqui no terminal internacional ou levantar num ATM. Deve evitar-se por os pés no banco em absoluto. Contei 20 carimbos ao funcionário, além de 30 minutos. O único sentimento que desperta é "foi para isto que quiseram a independência?". Ou, como o meu pai disse, já danado, "em Portugal isto levava 2 minutos". Tive que o arrastar de lá para fora. Portanto, havendo clientes com passado colonial, evitar completamente confronta-los com estas evidências mais pungentes de burocracia é um must.

Trazer dólares para Moçambique é um problema como só vi na Birmânia, se não mesmo pior. As notas têm que ser recentes, imaculadas e ninguém, nem bancos aceitam notas pequenas, ie, de menos de 20 dólares. Esqueçam gorjetas em notas de 1 USD que são critério mundial. A população não consegue trocar.

Com uma escala de 4h em Maputo dá para uma volta à cidade de carro. É perto e fica em cerca de 50 USD se for de 2h30, com paragens. Não é uma cidade bonita em termos de monumentos, mas também não é confusa nem feia como outras cidades africanas. Um português com interesse em história, ou passado familiar em Moçambique, gostará de ver.

Tudo limpo. Maputo, Inhambane, as estradas, as aldeias. Esta é a primeira e mais forte impressão para o viajante europeu que espera a pior das Africas. Moçambique é muito melhor em limpeza, estradas, aspecto e simpatia / dignidade das pessoas do que os vizinhos Tanzânia e Quénia. Não tem mesmo nada a ver. No dia em que a Gorongosa estiver em pleno, é mandar a malta para aqui (as casas de banho até têm papel higiénico).

O voo doméstico atrasou 2H e é habitual. Fretado a uma companhia sul africano. O piloto acelerou tanto na hora de aterrar que nem sei como parou.

Zona de Inhambane e Tofo muito bonita, mais para turismo independente e quem gosta de autenticidade. Ficámos num boutique de 6 quartos lindíssimo - Baía Sonâmbula, com um gerente italiano  também lindíssimo (falava português impecável porque teve uma namorada de Faro), tudo de bom gosto, serviço imaculado, semelhante ao Mucumbli de S Tomé, com motivos africanos na decoração e peq almoço maravilhoso. 

Photo by Baia Sonambula
Praia bonita, com ondas pequenas e regulares. Muito frequentada por sul-africanos (já se notaram, embora a enchente, o horror, sejam a partir de dia 21 de Dezembro). Muitos têm casa aqui. São simpáticos, descomplicados, mas bebem como esponjas e tornam-se barulhentos.

Toda a gente (local) se nos dirige em inglês. Quase apanham um susto quando falamos português, mas ficam felizes por poder falar a mesma língua connosco. 

Pessoas simplesmente adoráveis.

Guia-condutor Sergio óptimo, inteligente, discreto, muito sincero a falar do país e capaz de conversas interessantes. Recebe muitos franceses e alemães. 

Hoje, viagem de 400km por terra até Vilanculos (gostei muito, quem quer ver a paisagem a mudar, as aldeias, as pessoas, deve fazê-lo e a estrada está muito boa) e espera breve no hotel Dona Ana (muito bom ter aqui este apoio, os clientes não esperam perdidos na rua) antes de embarque para o Anantara Bazaruto

Photo by Raquel Ribeiro

Viagem de 45 min de barco tipo pequeno iate. Avistamos golfinhos... 

Recepção sumptuosa, rapidamente convertida numa simpatia mais próxima por causa da língua e das minhas piadas. 

Resort grande, muito mais para famílias do que lua de mel, a meu ver. Quartos familiares bem grandes no topo da colina, geminadas com outras, o que significa que estávamos na nossa mini piscina privada ao por do sol quando começámos a ouvir a música alta dos nossos vizinhos sul-africanos. Há beach villas junto à água que me parecem mais giras, mas só amanhã visitarei.

Photo by Raquel Ribeiro


Ilha bastante grande e habitada por outras pessoas nativas.

Bem cuidado, staff amoroso, comida óptima, mas ainda assim um grande resort internacional, sem especial africanidade, quartos enormes mas com alguns detalhes demodés. 

Água quente e bonita, mas sem peixes (para snorkeling há que ir em tours especiais a pagar à parte).

Photo by Raquel Ribeiro


Segurança total em todo o lado, não por presença policial mas por pura e simples paz de alma. Zero violência e intimidação. As pessoas deixam as portas abertas. 

Não vejam as notícias, que esses gajos só tem é inveja. Fechem essa agência e venham para aqui, que é bonito, pá. 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Pura Vida! A Laura foi à Costa Rica e voltou rendida - Parte 3

A Laura Filipe, uma das colaboradoras da TravelTailors, foi à Costa Rica no passado Novembro. Andou por Tortuguero e Arenal, e depois foi visitar as praias do Pacífico. Estamos quase a terminar esta viagem, mas não sem antes espreitarmos Monteverde e as águas turquesa de Manuel Antonio!
Em nome próprio, a Laura conta o que andou a fazer neste país onde se respira biodiversidade.


De Tamarindo rumo a Monteverde

No dia 4, levantámo-nos cedo e começámos a jornada em direcção a Monteverde que... não correu exactamente como esperávamos.

A ideia era fazer um caminho diferente do que tínhamos feito na ida e seguir por Santa Cruz, Nicoya, passar a ponte no Golfo de Nicoya e seguir para Monteverde. Acontece que o GPS do nosso carro achou por bem mandar-nos de volta pelo mesmo caminho (mesmo a outra opção sendo mais rápida) e, infelizmente, só nos apercebemos já quase a meio do trajecto. Fiquei furiosa. E como se não bastasse, quando chegámos a Cañas o GPS decidiu que devíamos virar numa estrada que não existia e não recalculava por nada. Resultado: ligámos o good old google maps e fizemos mais 1 hora de estrada para aprendermos.

Mas acabou por valer a pena. O trajecto que fizemos para Monteverde é todo em estrada de montanha, estreita e sinuosa (muitas partes em terra batida) e com vistas magníficas, incluindo do Golfo de Nicoya. E se alguém tem dúvidas sobre a origem do nome Monteverde, ficam inequivocamente esclarecidas: são montes verdes a perder de vista. E nós a parar a cada canto para fotografar.

Photo by Laura Filipe

Chegámos estafados, mas contentes. O nosso hotel era simpático, estilo boutique, com uma piscina e um jacuzzi. O quarto não tinha ar condicionado e, por isso, existiam alguns bichitos a fazer-nos companhia, mas nada de grave. Tem também a vantagem de estar perto da vila de Santa Elena (5 min a pé), onde existem vários restaurantes, supermercado e lojas. Almoçámos no Tree House, com óptima comida e totalmente construído em torno de uma árvore gigantesca!

Ao fim do dia fomos experimentar o jacuzzi para estarmos bem relaxados para a aventura do dia segyuinte.

E que aventura!

O pick-up foi pelas 8h em direcção ao Selvatura Park, a cerca de 20/25 minutos do nosso hotel. À chegada espera-se um pouco na fila para obter os bilhetes. Decidimos fazer o zip lining primeiro e fomos encaminhados para o local de equipamento. Já equipados a rigor, fomos levados até ao início do percurso. São 18 plataformas e 13 tirolesas. Depois de ouvirmos todas as instruções e recomendações, fizemos a primeira descida. Não é tão difícil como se espera, mas também não é tão fácil como parece. Os nervos apertam nas primeiras 4 tirolesas. Depois é que se começa a desfrutar a sério e a velocidade das tirolesas e a adrenalina aumentam proporcionalmente. A maioria é feita individualmente, mas existem duas que se fazem em casal por causa do peso. A última, com 1 km, pode ser feita em superman, ie., pendurado de barriga para baixo. Não nos aventurámos a tanto, mas experimentámos o tarzan swing. Numa palavra: espectacular!


Photo by Selvatura Park

E eu que desconhecia o meu lado aventureiro quase nem me lembrei que sofro de vertigens.

Claro que não resistimos e comprámos as nossas fotografias do zip lining para ficarmos com o registo das nossas caras de pânico iniciais. 20 USD no total e só tivemos de aceder a um site do parque e fazer download.

Depois, para abrandar o ritmo, fizemos as treetop walkways. Que vistas magníficas! Acho a rain forest mais luxuriante e bonita que a cloud forest, mas esta última tem muito encanto com o seu nevoeiro sempre presente.


Photo by Laura Filipe

Regressados à cidade, almoçámos no Tico y Rico (óptima comida local e internacional!) e tivemos ainda tempo de descansar um pouco antes da aventura nocturna. O pick-up foi às 17h40 para a caminhada nocturna que se revelou mais um belo investimento. Vimos um papa-formigas, uma preguiça com bebé, além de uma cobra venenosa e um pequeno morcego a alimentar-se pendurado numa árvore. Esta experiência não foi tão imersiva como a que tivemos em Tortuguero, mas permitiu-nos ver mais vida selvagem.


Photo by Laura Filipe


Fim da aventura em Manuel Antonio

No dia 5 levantámo-nos cedo e deixámos Monteverde em direcção a Manuel Antonio. (Mais tarde descobrimos que deixámos também os fatos de banho para trás, mas tínhamos suplentes. E, entretanto, o hotel fez a gentileza de os enviar para Portugal. Ufa!)

O caminho é fácil, mas demorado. As estradas só têm uma faixa na maioria do tempo e existem muitos camiões a circular, o que dificulta a marcha. Além de que é necessário ter atenção às ultrapassagens: os Ticos têm o hábito de ultrapassar vários carros de uma vez e chegam a ser mais de 3 carros a ultrapassar todos enfileirados.

Mas lá chegámos a Manuel Antonio e ao nosso hotel. No check-in descobrimos que nos fizeram upgrade para uma suite - para terminar esta grande aventura em beleza! O hotel é relativamente pequeno, mas os quartos são óptimos. Existem 3 piscinas (uma exclusiva das suites) e a cozinha é extraordinária, já para não mencionar o serviço. Uma aposta acertada!

Apesar de estarmos cansados, decidimos espreitar a Playa Biesanz, a 300 metros do hotel. Uma delícia! Pequena, rodeada por vegetação e quase sem ondulação. A areia é fina e a água de um tom turquesa muito convidativo.


Photo by Laura Filipe

No caminho de regresso ao hotel tivemos uma enorme surpresa: entre 10 a 15 macacos Titis apareceram a caminhar em fila indiana pelos cabos da electricidade! E nós que ainda não tínhamos visto macacos tão de perto (e esta espécie é particularmente adorável), ficámos encantados para não dizer histéricos.

Esta viagem surpreendeu sempre até ao fim.

No dia seguinte tivemos o pick-up cedo para uma caminhada no Parque Nacional de Manuel Antonio. Pode não ser o parque mais importante nem o maior da Costa Rica, mas é certamente um dos mais bonitos!
Durante a caminhada tivemos oportunidade de ver mais macacos, preguiças, iguanas, morcegos... Mas o ponto alto foi a praia. Depois de quase 2 horas a caminhar com calor e humidade, chegámos à praia de Manuel Antonio. Mais água turquesa e areia branca e quase sem corrente. Claro, não resistimos e fomos dar uns mergulhos. É o local perfeito para passar uma óptima tarde. Só é necessário ter atenção aos macacos Cappuccinos que passeiam pela praia e, quando podem, gostam de levar souvenirs dos visitantes do Parque.


Photo by Laura Filipe

No último dia, arrancámos para o aeroporto com bastante tempo de antecedência com receio de atrasos por causa do trânsito e dos camiões. Correu tudo bem e chegámos um pouco adiantados, mas antes assim.

Estou certa que farei outras viagens na América, mas esta foi a viagem de uma vida pela qual terei sempre um carinho muito especial. E voltarei, porque há ainda muito por descobrir e explorar!

Pura Vida!