segunda-feira, 11 de maio de 2020

A Laura foi à descoberta da Terra do Sol Nascente - parte 5

A Laura decidiu ir à descoberta da cultura ancestral do Japão no passado Setembro. Hoje descobriremos tudo sobre Kanazawa, uma cidade samurai. Em nome próprio, a Laura conta as suas aventuras na Terra do Sol Nascente.


Kanazawa, cidade samurai (e gastronómica)

Dia 26/09 (5ªfeira) deixámos as malas na recepção do hotel pelas 7h (para que seguissem para o hotel de Tóquio), tomámos o pequeno-almoço e fomos apanhar o comboio na estação de Quioto em direcção a Kanazawa, que fica a cerca de 2h30 de caminho.

Fomos num Thunderbird, que eu apelidei de parente pobre do shinkansen mais moderno: não tem ar condicionado (ou estava avariado), não tem wi-fi e não tem comida a bordo, apenas bebidas. Ainda assim, é muito confortável e as paisagens pelo caminho são lindíssimas - mar, montanhas, campo, casas tradicionais... este país é saído de um conto de fadas!

Chegados a Kanazawa fomos para o hotel para fazer check-in, que não estava disponível porque era só a partir das 14h. Deixámos as malas num cacifo do hotel (muito prático) e fomos visitar o Omicho Market que, além de produtos locais, tem imensos snacks e alguns restaurantes - um óptimo local para foodies. Pode optar-se por ir petiscando pelas banquinhas ou sentar para comer num restaurante.

Photo by Laura Filipe

Optámos por experimentar um restaurante de sushi, já que Kanazawa tem óptimo peixe e marisco. Depois de almoço, explorámos mais um pouco o mercado e, em seguida, fomos visitar o Kenrokuen Garden, perto do Castelo de Kanazawa. Não sendo espectacular, é muito agradável e proporciona um momento mais relaxado numa viagem que se tem revelado algo cansativa (mas recompensadora!).

Photo by Laura Filipe

Depois regressámos ao hotel para fazer check-in (mais um quarto em que temos de pedir licença para entrar, mas um pouco mais espaçoso que o anterior) e saímos umas horas depois para jantar.

Hoje, 27/09 (6ªfeira), tomámos o pequeno-almoço e encontrámo-nos às 9h com a guia para a visita guiada a Kanazawa.

Kanazawa tem mesmo de ser vista com a ajuda de um guia, caso contrário não se sabe o que se está a ver, mesmo que se chegue aos sítios. A guia é muito simpática e muito conhecedora da cidade.

Começámos por ver um dos bairros geisha da cidade (são 3 ao todo, sendo que este é um dos menos movimentados em termos de turistas). Não me canso de admirar as ruazinhas estreitas e sinuosas com as casas tradicionais com estrutura de madeira.

A guia levou-nos a uma casa tradicional geisha aberta ao público, que tinha o senhor japonês mais simpático que possam imaginar a explicar-nos as coisas (com a ajuda da guia para algumas traduções). Embora não fosse permitido entrar na sala em exposição, pediu-nos para entrar e tirou-nos fotografias sentados de joelhos à mesa e com os instrumentos que as geishas usam para entreter os seus convidados.

As casas são minimalistas por dentro e muito, muito bonitas com as suas portas de correr e os tatamis no chão.

Photo by Laura Filipe

Despedimo-nos do senhor e seguimos para o Templo Ninja – que é apenas um nickname devido às passagens secretas e outros truques escondidos pelo templo, de resto não tem nada a ver com ninjas (esta era uma cidade controlado pelo senhor feudal, e defendida por samurais). A visita ao templo é feita inteiramente em japonês – não permitem aos guias que traduzam – mas com o apoio de um livrinho com fotografias e explicações em inglês do que estamos a ver. Valeu muito a pena!

No final da visita, que começou às 10h e durou cerca de 30 minutos, seguimos para o Castelo de Kanazawa, que é o único no Japão com telhado branco (resultante do chumbo oxidado). O Castelo foi alvo de fogo posto (segundo consta) e quase completamente destruído. No entanto, foi reconstruído de acordo com a traça e materiais originais. Vale a pena a visita ao Castelo e ao Jardim (não o Kenrokuen, um outro mais pequeno).

Seguimos depois para o Bairro Samurai (Nagamachi). Mais ruas estreitas e sinuosas e casas tradicionais em madeira. Ficámos a saber que Kanazawa era uma das maiores cidades durante o início do período Edo, pois produzia muito arroz, que era como se media a riqueza na altura. No Bairro Samurai também se percebe que quanto mais alto o muro que rodeia a casa, mais rica a família samurai que ali vivia. Visitámos a casa de uma família samurai (Nomura) e logo à entrada somos recebidos por uma armadura samurai, totalmente preservada que, segundo a guia, pesa cerca de 25kg. A casa é lindíssima e tem um pequeno jardim muito pacífico.

Photo by Laura Filipe

Fomos depois almoçar e aproveitámos para experimentar tempura de gambas e legumes, que estava deliciosa.

Seguimos para um templo (já perco a conta ao número de templos e shrines que vemos, até mesmo entre prédios altos ou em casas particulares), cujas traseiras dão para um outro pequeno bairro geisha, também pouco movimentado. Como o bairro está nas traseiras do templo, os homens podiam fingir que iam rezar e escapar-se pelas traseiras para visitarem as geishas

Perto do bairro geisha mais popular de Kanazawa, existe uma pequena workshop que produz folha de ouro, que é um dos símbolos da cidade – bebe-se folha de ouro no chá, comem-se gelados com folha de ouro… Foi muito interessante ver o processo manual de produção de folha de ouro e o seu manuseamento.

Seguimos então para o terceiro bairro geisha, o mais popular e movimentado dos três. Vimos uma geisha house por dentro, maior e mais elaborada do que a que tínhamos visto de manhã, com as suas paredes interiores em tons de vermelho e as suas portas de correr com padrões lindíssimos.

Segundo a guia, apesar de hoje em dia se preservarem as casas tradicionais (que até há pouco tempo eram consideradas velhas e feias), os jovens preferem casas mais modernas, estilo apartamentos. Não é que não compreenda e, se fosse japonesa, talvez partilhasse do sentimento, mas estas casas tradicionais fascinam-me to no end. Parecem casas de bonecas.

Apesar de se verem grupos de amigas e casais com os kimonos tradicionais um pouco por toda a parte em Quioto, em Kanazawa (talvez por não ter a dimensão de Quioto e, por isso, um ambiente um pouco mais intimista) há alturas em que parece que somos transportados para uns séculos atrás quando nos deparamos com pessoas com os kimonos tradicionais em ruazinhas estreitas sem ocidentais ou grandes elementos modernos à vista.

Photo by Laura Filipe

Kanazawa merece bem o tempo que lhe dispensámos e é uma óptima opção para quem tenha tempo e queira ver um lado mais tradicional do Japão sem multidões.

Amanhã acordamos cedo para apanhar o autocarro para a aldeia de Ogimachi na região montanhosa de Shirakawa-go. Mal posso esperar! Apesar de saber que esta é uma aldeia turística, tenho a certeza que ficava uma semana inteira (ou mais!) a descobrir aldeiazinhas japonesas totalmente banais e desconhecidas para poder observar a vivência dos locais que, certamente, será muito diferente das médias e grandes cidades.

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